Carta aberta de uma mãe abusiva

Colunistas Talita Andrade

Eu sei que eu sou julgada. Visto de fora, ninguém compreende a vida que eu levo. O preço da maternidade é muito alto, e nem sempre temos condições de pagar.

Nós mulheres, somos cobradas pra dar conta de tudo, casamento, trabalho fora, casa e filhos. E mesmo mantendo a peteca no ar, meus próprios filhos não me dão valor. Tão sempre esperando eu pedir ajuda, como se o que precisasse fazer fosse um mistério a desvendar. Pois é, pros filhos, o óbvio tem de ser dito.
Eu vivo falando o quanto abri mão da minha vida em prol deles. Deixei de sair, de me cuidar, de dormir bem, de viver. As vezes eu me questiono, sobre o tal amor incondicional, e nesses momentos, imagino sim, como seria minha vida se eu não os tivesse. Por um lado, minha imaginação voa longe, me mostrando o quão feliz eu poderia ser. Jovem, livre, requisitada. Por outro lado, a culpa me corrói, porque eu amo meus filhos. Mas na idade deles, eu ajudava muito minha mãe, eu fazia tudo antes dela mandar. Eu comi o pão que o diabo amassou para ninguém reconhecer meu valor.

As vezes eu perco a cabeça, grito e até bato, porque eles me tiram do sério. Eles me comparam com outras mães, ou com o próprio pai, que não sabe nem diferenciar remédio de vitamina. Não acatam a educação e os conselhos que eu dou. Talvez, se fossem abandonados ou maltratados por madrastas, iriam dar mais valor à mãe maravilhosa que eles têm. Comigo não tem meias palavras ou jeito meigo para iludi-los, se eu não disser o quanto são ruins em algo, eles vão ser humilhados por terceiros, lá fora, achando que são bons em determinada coisa, sendo que não são.

Filho a gente cria pro mundo. Eles vão embora e não olham pra trás. E aí, tudo que eu me sacrifiquei, tudo que fiz por eles, será descartado. Ingratos. Perdi amizades, comemorações, sofri violência calada, e hoje em dia eu não sou encaixada em lugares sem que o tema seja maternidade, imagina mais velha, quando eles voarem do ninho? De que valeu tudo isso?
É por isso que exijo sim, que eles batalhem pra ser alguém, eu digo a verdade quando erram, não passo a mão na cabeça não. Essas frescuras de educar com amor é papo de gente que tem empregados e marido rico. Mães pobres não, educam com a realidade, pois se não aprender dentro de casa, a rua ensina, e da pior maneira. E quem disse que amor de verdade não é essa vida dura e calada por conta dos filhos, que eu levei?

Eu noto, algumas vezes, as pessoas me olhando, dando esporro ou uns tapas nos meus filhos. Mas quem são eles pra me julgar? Ninguém me ajuda com nada, não perguntam se preciso de alguma coisa. Dar pitaco no filho alheio é fácil. Quero ver aturar o tanto que aguento. Eu deveria ser canonizada, isso sim. Choro calada, me arrasto, até doente pra manter marmanjo cheirosinho, bem arrumado e protegido.

Esses dias, li um texto na internet, cujo título parecia piada “Mães que ferem”, retratando as mães como narcisistas. Conseguem perceber o quão ridículo é isso? Dizendo que é um distúrbio de personalidade! A que ponto chegamos, que mundo chato, uma redoma de frescura. Apanhei até dizer chega e não morri. Pelo contrário, virei foi gente. Quando vi que não dava mais para suportar minha casa, peguei barriga e casei, e aqui estou eu, honesta, trabalhadora, sem pedir nada a ninguém. No máximo, com o nome sujo.

A internet é boa para algumas coisas, mas me dá vergonha em tantas outras. A mulher que escreveu aquele texto, no mínimo é uma filha soberba, mal agradecida, que reclama de barriga cheia. Coitada dessa mãe, que desgosto.
Cada um com seus fardos. E eu não admito que ninguém venha me dizer como educar meus filhos.

6 thoughts on “Carta aberta de uma mãe abusiva

  1. A moça que escreveu a carta ainda vive presa ao passado, apanhar não é educar, violência não é amor, querer ter respeito mas não dar aos proprios filhos é sem lógica, a unica coisa que você está trazendo para seus filhos é problemas psicológicos, desculpa moça mas você não nasceu para ser mãe, pare para pensar um pouco, se você estivesse dando amor para seus filhos eles seriam gratos e retribuiriam, eu tive uma mãe abusiva e sei muito bem como é ter uma e tudo que você disse foi “Vou bater nos meus filhos para eles virarem gente”, mas senhora eles são gente, se você não vê pessoas em seus filhos e não dá um ponto de segurança pra eles quem mais vai dar? seu pensamento é atrasado, não existe educação a base de violencia e sim mães tóxicas que não se atualizam, você está apenas sendo narcizista e ignorante se vitimizando mas não fazendo nada para mudar isso. Se você não aceita conselhos como educar seus filhos de outras pessoas isso só mostra o quão ruim como mãe e pessoa você é pra chegar nesse nivel de ignorancia e narcizismo, você está literalmente ignorando fatos e pensando só em si mesma e não nos sentimentos de seus filhos, ja parou pra pensar o por que você é assim? talvez por que como você mesma disse apanhou até dizer chega, você só enxerga gritos e violencia como forma de resolver as coisas, procure um psicologo ou você vai continuar se vitimizando enquanto machuca profundamente seus filhos.

    1. Diogo, muito obrigada pelo seu comentário.
      Fico feliz que você parou seu tempo para dissertar sobre um texto tão delicado.
      Essa carta aberta é a visão de uma narcisista, onde dentro da realidade dela, ela entende que age corretamente.
      Eu tenho uma mãe assim, e escrever essa carta sobre a ótica dela foi muito fácil, porque foi tudo o que sempre ouvi dela.

      Aprendi, com muita terapia, que ninguém pode dar aquilo que não tenha recebido. Também há gente ruim, que mesmo recebido muito amor, tem muita ruindade dentro de si e assim amargura o mundo.
      Mas não tem muito o que fazer, somente tomar consciência e se afastar daquilo que nos faz mal.

      Obrigada por compartilhar sua forma de pensar, é muito nobre!

      1. Oi Talita, concordo com todos os pontos menos com a frase: “que ninguém pode dar aquilo que não tenha recebido”. Porque eu também tive essa experiência e tudo que eu mais trabalho é para quebrar esse ciclo, tento transmitir amor e afeto ao meu filho nos maiores gestos.

  2. Algumas coisas seu text faz todo sentido!!
    É quase tudo isso mesmo!
    Porém a escolha de ter filhos foi sua!
    Nao chamam as mães de Narcisista, algumas mães SÃO NARCISISTAS, procure se informar melhor. Acredito que não seja seu caso, embora vc seja um tanto fria, apenas é uma pessoa que batalha e tem poucas recompensas, então é turrona. Só se conversássemos com teus filhos saberíamos.
    Enfim, o que não justifica é aprisionar um filho numa redoma e culpá-lo, mininui-ló, abusar psicologicamente dele pra ver se seu mundo fica um pouco mais perfeito ou o dele fica tão ruim quanto o seu, esse é o caso das mães Narcisistas!!
    E por favor, cuidado quando for falar sobre isso, vc pode ferir ainda mais uma filha que sofre abuso de uma mais com esse distúrbio! Informe-se!

    1. Roseli, obrigada pelo seu comentário.
      Esse texto eu escrevi baseado no relato de uma mãe que não enxerga o quão mal faz aos filhos. Como tudo na vida tem dois lados, e ambos estão certos dentro de cada realidade… O bandido rouba alegando que não tem outra saída, e precisa ajudar a família. Na visão dele, ele tá fazendo por uma boa causa.

      Essa carta aberta não é algo que eu concordo, tanto que em todos os textos delicados que publico, eu deixo o alerta de gatilho. Eu sou filha de narcisista Roseli, e sinto na pele os efeitos dessa relação tóxica. Por isso meus textos nos temas são tão conhecidos.

      1. Mães narcisistas existem. E pais narcisistas não? A sociedade joga todos os seus erros nas mulheres, isso é muito injusto e é uma avaliação superficial. Se a mãe narcisista é real, onde está o pai? Ele não merece ser julgado e condenado também?

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