A Constituição Federal de 1988 define a família como sendo a “base da sociedade” (art. 226). “Base” ou “fundamento” sugere que a sociedade deve ser edificada e consolidada sobre o alicerce da família. Ignorar a família sob essa perspectiva é o mesmo que construir um edifício sobre a areia.
A família é a célula originária da vida social. É ela a sociedade natural em que o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. Por isso mesmo, a vida da família é objetivamente iniciação à vida em sociedade.1 É a família, enquanto comunidade natural, o lugar onde se experimenta a sociabilidade humana. Uma sociedade à medida da família é a melhor garantia contra toda a deriva de tipo individualista ou coletivista, porque nela a pessoa está sempre no centro da atenção enquanto fim e nunca como meio 2.
Uma definição da família que me parece ser a mais apropriada foi dada por João Paulo II: a família é “uma comunidade de pessoas, a menor célula social, e como tal é uma instituição fundamental para a vida de cada sociedade” 3. Família é uma “comunidade de pessoas”, não uma junção de indivíduos que disputam interesses internos; ela é “a menor célula social”, pois a composição do tecido social com todas as suas relações depende do bom funcionamento dessa pequena célula fundamental; e ela é a “instituição fundamental para a vida de cada sociedade”, porque sustenta os princípios e valores fundamentais da vida, do amor recíproco, da verdade, justiça e liberdade.
A sociedade humana sempre enfrentou grandes e terríveis desafios: epidemias, conflitos, guerras de todos os tipos – males que deixaram tristes sequelas na história humana. Mas nenhum mal é tão terrível quanto este que se levanta em nossos dias para tentar destruir a família. Não nos surpreende como a família tem sido alvo de tantos ataques? Seria apenas “obras do acaso”, pergunto, esta enxurrada de programas de televisão, filmes, músicas, livros, movimentos e manifestações com apoio público e privado contra a família?
Está evidente que existe uma terrível estratégia orquestrada com a finalidade de atacar e destruir a instituição familiar. Sim, há uma guerra ideológica contra os valores da família. A inversão de valores, a desordem moral e a elaboração de ideologias falaciosas enganam e disfarçam a insensatez de uma sociedade sem direção. O caos que se instala nas relações sociais, a falta de confiança mútua e uma falsa “religião do respeito”, sem Deus, lança-nos num futuro incerto e num paganismo imoral, com prejuízo incalculável para a família.
Toda essa realidade atual nos revela as espessas trevas em que vivem mergulhado os homens de nosso tempo. A ausência de princípios e valores morais nas relações humanas já demonstrou ser um dos problemas bases causadores de toda essa desordem. Querer justificar que o problema é histórico, cultural ou econômico, são apenas formas vazias de transferir a culpa para categorias abstratas e fora de nosso alcance. Responsabilizar o Estado e os governos pelos desarranjos sociais – embora o sejam em grande parte – pode ser também apenas mais uma forma de dizer que somos apenas vítimas desse sistema sócio-político-cultural destruidor do bem-estar humano. Ficar repetindo que esses são os problemas que destroem nossa sociedade é tão inútil quanto repetir que o doente irá morrer porque perdeu a saúde.
Se a sociedade está ruindo, é preciso reconhecer que sua base fundamental – a família – está sendo enfraquecida. Faz-se necessário ir além e encontrar meios para a restauração desse fundamento da sociedade. Particularmente, acredito que somente as boas instituições poderão regular e reordenar a situação em que nos encontramos.
Assegurar a existência da família enquanto base fundamental da sociedade é responsabilidade de todos. Muitas iniciativas já existem, mas não há uma mais emergencial do que defender a instituição familiar como base segura para um futuro melhor da sociedade. Dito de outra forma: a família é a esperança para a sociedade. Não é a família quem está precisando de nós, somos nós quem precisamos da família!
1 Cf. CIC 2207
2 Cf DSI, 213
3 Carta às Famílias, 17.
Caro Rogério, ótimo artigo.
Devemos cada vez mais valorizar nossas famílias, fazendo com dela uma verdadeira comunidade de amor, e vivendo um pentecostes diário, para que todos os medos, angustias sejam vencidos pela verdade.
Familia Rosa,
Parabéns Rogério por apontar de forma lúcida e precisa, um dos maiores problemas da sociedade moderna. A ausência de sentido para vida começa, quando na base não se encontra mais sentido. Uma família que é construída de qualquer forma, ao invés de proporcionar uma sociedade melhor e saudável, contribui para que o caos social avance. É dever do Estado contribuir para que a família seja mais valorizada, porém, é obrigação de cada cidadão fazer valer e conservar este bem maior, a instituição chamada família!
Não é a família quem está precisando de nós, somos nós quem está precisando da família.