Profissionais de enfermagem de Barueri expressam como é estar na linha de frente

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De 12 a 20 de maio celebra-se a Semana do Profissional de Enfermagem em todo Brasil. A data abre com o Dia do Enfermeiro, comemorado dia 12 mundialmente, e fecha com o Dia do Técnico e do Auxiliar de Enfermagem, comemorado dia 20 nacionalmente. Este ano, mais do que nunca, a categoria merece todas as homenagens, afinal, além de atuar na linha de frente nessa pandemia, representa o grupo mais numeroso do sistema de saúde. 

O preço do cuidar 
Quando a Covid-19 chegou ao Brasil, a técnica de enfermagem Luciana Silva dos Santos, há 22 anos na profissão, se encheu de coragem e sentiu que chegou o momento de contribuir com a sociedade de uma forma até então inédita. E assim o fez, lutando diariamente na linha de frente junto a todos os seus colegas da Saúde de Barueri. A coragem, no entanto, tornou-se medo assim que testou positivo para o novo coronavírus. 

“Quando meu resultado veio positivo aquele sentimento de Mulher Maravilha sumiu e deu lugar ao medo! Aos meus colegas que ficaram atuando, a sensação é de pânico: ‘a qualquer momento posso ser eu a vítima desse vírus’. Estamos em uma guerra e podemos perder nossa vida para um inimigo invisível”, expressa Luciana, felizmente já recuperada e de volta ao trabalho na UBS do Jardim Maria Helena. 

Convidada a definir esse momento, a enfermeira da UBS do Jardim Belval, Lucineide Maria da Silva, apenas disse: “eu defino como medo de ser a próxima a morrer”. Essa sensação se aprofunda entre esses heróis, principalmente à medida que os nomes das vítimas vão se tornando conhecidos, conforme destaca a enfermeira da UBS do Engenho Novo, Angela Silva de Carvalho Saraiva. 

“É muito difícil vermos o número imenso de mortes, e mais difícil ainda quando vemos esses números ganhando rostos e nomes conhecidos. Estamos perdendo colegas de serviço que atuaram lado a lado conosco. E isso assusta. Fico com medo de me contaminar, contaminar minha família, mas quando chego no meu local de serviço, me paramento para iniciar o dia, esse medo passa, só penso em como vou conseguir ajudar as pessoas que nos procuram”, conta Angela. 

Nunca antes 
Todos os profissionais entrevistados afirmaram que nunca haviam vivenciado algo parecido com o que estão vendo hoje. “Nesses 20 anos na área da saúde já tivemos alguns surtos, mas nunca passei por nada parecido com o que estamos vivendo hoje com essa pandemia da Covid-19”, afirma Angela. Sua colega Lucineide, na área há 14 anos, concorda: “olha que peguei muitos casos de meningite, que na época ficávamos com medo, mas nada se compara aos dias de hoje”. 

Há 17 anos na enfermagem, Elaine de Fátima Fonseca, da UBS do Parque dos Camargos, engrossa essa lista. “Já passei por inúmeras coisas em minha carreira profissional, como atendimento de pacientes graves, vários casos suspeitos de sarampo, mas nada se compara à situação que estamos vivendo no momento”, garante. 

Mesmo assim, esses profissionais conseguem deixar o pânico de lado para fazer aquilo que sabem e amam fazer: salvar vidas. “Está sendo muito difícil, mas não posso desanimar para não desmotivar os colegas de trabalho”, declara Lucineide. Luciana também recuperou as forças após o susto: “vários de nós já perderam suas vidas, vítimas da Covid-19, mas não vamos desistir. Enfrentaremos essa pandemia até o fim e não desistiremos da nossa luta. Proteger a enfermagem é proteger a saúde do Brasil”, defende. 

A gratidão transforma 
A preocupação com a equipe e com os pacientes também aparece nas palavras da enfermeira Maria Inês Rosa Ribeiro Costa, da UBS da Vila Boa Vista, há 13 anos na profissão. Conforme detalha, o amparo dos profissionais faz toda diferença, até mesmo quando o paciente é um colega de trabalho. 

“Tento me manter equilibrada emocionalmente para poder passar segurança e prestar o melhor atendimento. O que tenho visto é que tanto os pacientes como os funcionários que ficam doentes com Covid-19 ou casos suspeitos ficam sem base nenhuma com relação aos cuidados que precisam tomar no isolamento domiciliar. Quando damos esse suporte ficam muito agradecidos e é gratificante porque quem é da área da saúde teoricamente já sabe como são os cuidados, mas quando adoecem parece que fica tudo diferente”, descreve. 

A união da equipe e o respeito dos pacientes permeiam a fala emocionada de Elaine. “Sinto que dentro da unidade o movimento é de grande união, todos nós estamos nos ajudando, tentando garantir a melhor assistência aos usuários. A maioria dos profissionais estão apreensivos, mas oferecendo o melhor de si. Já os pacientes têm nos tratado de uma forma tão bonita e carinhosa que chega a nos emocionar. Aqui na unidade os usuários participam dos momentos de orações e agradecem o atendimento prestado”, destaca a enfermeira. 

Para Angela, essa união é o que a fortalece. “Sinto que até mesmo os colegas de serviço contam com a minha força, e isso me fortalece todos os dias. No final do dia vou para casa com a satisfação de ter feito o meu melhor”, diz, orgulhosa.  

Para o povo brasileiro 
Sem uma vacina e nem mesmo um tratamento específico, são poucas as armas contra o novo coronavírus, e elas dependem exclusivamente de ações individuais capazes de refletir em toda a sociedade. É o caso do distanciamento social, da correta higienização das mãos, do uso de máscaras, dentre outras medidas responsáveis. Com a colaboração de todos o número de infectados diminui e, consequente, de óbitos, além de não correr o risco de levar o sistema de saúde ao colapso. Em nome disso os profissionais de saúde têm feito vários apelos à população brasileira. 

“Eu peço encarecidamente que tomem consciência dessa situação e colaborem com as medidas impostas pelo Ministério da Saúde para desacelerar o crescimento dessa pandemia. Tenhamos mais amor ao próximo”, pede Luciana. Para sua colega Angela, quanto melhor agirmos, mais rápido isso acaba: “gostaria de dizer ao povo brasileiro que isso tudo é real, que isso assusta mesmo, e que com fé em Deus vamos passar por essa fase e comemorar com muita festa e abraços calorosos, como tanto gostamos. Mas que até essa fase chegar, quem puder, fique em casa”. 

Já Maria Inês lembra que é hora promover mudanças. “A mudança de comportamento tem que ser imediata. Vamos olhar ao redor e ver quem precisa de ajuda e vamos ajudar sem esperar nada em troca”, pondera. Para Lucineide, empatia é fundamental e salva vidas. “Fique em casa, por você e por nós. Esse isolamento é importante para todos. Assim com vocês, também temos família e somos amados por alguém. Sonhamos com o fim dessa pandemia, e que ela não cause tanta sequela emociona”, destaca. 

Elaine corrobora as mensagens das colegas de profissão e pede força às pessoas: “sejam fortes e pacientes, este momento vai passar, mas todos nós precisamos seguir as recomendações dos órgãos sanitários. Nós profissionais da saúde estamos nos doando de todo o coração para garantir que tudo isso ocorra com o mínimo de dor e sofrimento. Estamos fazendo o que mais amamos, que é cuidar do outro, mas reflitam: muitos de nós também corremos o risco de ficarmos doentes. Por isso, pedimos que cada um faça a sua parte, respeite o isolamento social”, finaliza. 

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