Uma sensação? Frio. Um sabor? Amargo. Uma Cor? Preta. Um Desejo? A morte.
Crisântemos. Essa é a aparência da depressão.
Que potência sutil ela tem. Eu confesso que eu já subestimei seu poder. Já descredibilizei seus efeitos. E talvez, seja por isso que a deixei entrar na minha vida. O problema é que gostamos uma da outra. Aprendi a ser resiliente com ela.
Nesse nosso relacionamento tóxico, ela até me permite ser feliz, mas logo que me sente se desvencilhando, ela joga sujo para me resgatar. Só que eu sei enfraquecê-la. Eu aprendi a escrever para as pessoas, contando como podemos combater, lutar e vencer. Eu defendo a depressão, quando as pessoas dizem que é frescura, mas eu a ataco quando digo que é somente uma adversária para ser combatida. Touché!
É comum os questionamentos depressivos. A tão estimada busca por sentido. Esse vazio é questão de ângulo. A perspectiva está coberta por um manto preto. A utopia do sentido é somente uma melancolia para invalidarmos nossa trajetória. O sentido está naquilo que somos capazes de fazer, de causar, de promover. Mas a depressão consegue demolir qualquer valor e dignidade que construímos e confiamos.
Até então, ter um sentido na vida nunca foi uma necessidade, porque vivemos a vida dentro das nossas possibilidades, enfrentamos a morte diariamente, desde o momento que acordamos. É por isso que quem procura sentido em meio a depressão, morre sem nenhum feito. É uma parede de eco. Não há resposta, nem descoberta. Não tem produtividade no cenário sombrio, nem sequer respostas.
Procurar um sentido na vida é uma utopia (uma ignorância, para dizer a verdade). O que almejamos é ter uma missão, mas nem todo mundo tem sabedoria para desvendá-la. A nossa missão é interpretativa, juntando sinais, descobrindo dons, talentos e paixões. Missão é aquilo que te dá a sensação de que se você não soubesse fazer, você se sentiria miserável. A missão te move, te engrandece, te controla. Você nasce com ela, para ir aflorando.
Nem todos tem missões dignas a cumprir. Talvez, sua “missão” seja ferir alguém para que essa pessoa ganhe força, passe pela metamorfose que ela precisa passar para então cumprir a missão dela.
E assim chegamos num ponto muito importante: o mal que o outro nos faz não pode ter grande efeito sobre a nossa vida. É irreversível. Está feito!
A dor que o outro nos causa é inevitável, mas a durabilidade dessa dor é uma decisão. Toda ferida cicatriza e vira lembrança de aprendizado. O risco de toda dor é a depressão entrar com analgesia. E no processo de autopiedade e autoculpa, de questionar o sofrimento, o mal, a traição, o golpe, a responsabilidade e o motivo do outro, a sombra acaba te abraçando.
Eu posso descrever a depressão de diversas formas. Eu a conheço tão bem, porque são anos convivendo e me reerguendo. E sabe o que é mais engraçado? ninguém acredita quando eu relato sobre. As pessoas sempre respondem “Imagina, você é tão cheia de luz, tão alegre e divertida. Você é corajosa e de bem com a vida.” Fico feliz por saber que minha força é tão forte a ponto de blindar minha imagem.
Eu não sou nenhuma especialista ou profissional, tudo que sei foi vivenciando e sobrevivendo. Eu não diria que há uma cura definitiva, porque nossa vida tem altos e baixos, e quando há um pico de decepção e tristeza, podemos ter recaída.
Depressão nada tem a ver com religião. Não é safadeza, nem doença de preguiçoso.
Para você que está vivendo na inércia, não se sabote. A cura tem vários formatos, pode ser uma ajuda profissional, um livro imersivo, um retiro, um remédio, um milagre.
(Milagre: Fato ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis da natureza. Acontecimento admirável e espantoso).
E para finalizar essa carta, um conselho, ou talvez uma indireta.
A vida é intuitiva… quem tenta decifrar a vida para tomar o controle morre louco.
A vida não tem regra, nem lógica para seguir. As pessoas nos fazem mal ao fazermos o bem, muita gente ruim se dá bem, enquanto gente boa se f*de. O que determina nossa existência é nossa resiliência. Passar por cada processo, cada acontecimento extraindo lições, distribuindo perdão e seguindo em frente, valorizando os presentes que inexplicavelmente nos encontram.
Talvez, em meio às trevas, um anjo te resgate. É normal ter medo, mas se movimente, vá de encontro. O Universo, por alguma razão te acha merecedor disso.