Nesta semana, está em pauta na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 1774/2019, que propõe a liberação da venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) em supermercados, bares, quitandas e outros estabelecimentos que comercializam alimentos. Embora pareça uma medida para facilitar o acesso a remédios pela população, essa proposta levanta uma série de preocupações graves com relação à saúde pública e aos riscos da automedicação.
Os defensores da lei argumentam que a venda de medicamentos nesses locais reduziria os custos para os consumidores. Contudo, estudos da Nielsen indicam que medicamentos comercializados em supermercados podem ser de 45% a 55% mais caros do que aqueles vendidos em farmácias. Além disso, a ausência de orientação farmacêutica adequada pode transformar uma solução simples em um problema grave para a saúde.
A automedicação, que consiste em usar remédios sem orientação médica, é uma prática muito comum no Brasil. Contudo, os riscos associados a essa prática são alarmantes. Veja algumas das consequências da automedicação:
Agravar Doenças: O uso inadequado de medicamentos pode mascarar sintomas importantes e retardar o diagnóstico de doenças graves.
Reações Alérgicas e Interações Perigosas: Medicamentos podem causar reações adversas ou interagir com outros remédios, potencializando ou anulando seus efeitos.
Danos a Órgãos Vitais: O uso prolongado ou incorreto pode levar a lesões no fígado, insuficiência renal e sangramentos no estômago e intestinos.
Dependência e Efeitos Letais: Em casos extremos, a automedicação pode levar à dependência química ou até mesmo à morte.
Conselho Federal de Farmácia e outras entidades farmacêuticas, que representam cerca de 400 mil profissionais no país, se posicionaram firmemente contra a venda indiscriminada de medicamentos. Isso porque a farmácia não é apenas um ponto de venda, mas um espaço de orientação e cuidado com a saúde da população.
De acordo com o farmacêutico Bruno Henrique Theodoro de Souza, “O uso racional de medicamentos (URM) é um princípio estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1985, que prevê a administração de medicamentos de maneira que atendam às necessidades clínicas dos pacientes, nas doses adequadas, por períodos apropriados, ao menor custo possível para a sociedade”. Essa prática é essencial para garantir a eficácia do tratamento e evitar problemas como automedicação, reações adversas, resistência antimicrobiana e desperdício de recursos de saúde.
farmacêutico também alerta para os desafios do uso irracional de medicamentos: “O uso inadequado de medicamentos, como a automedicação, pode mascarar sintomas, causar intoxicações e até mesmo agravar doenças. Além disso, contribui para a resistência antimicrobiana, um problema global de saúde pública”. Ele enfatiza que fatores como o fácil acesso a medicamentos e a automedicação são grandes contribuidores desses problemas no Brasil e no mundo.
Como Evitar a Automedicação?
l Consulte um médico ou farmacêutico: Eles são os profissionais qualificados para orientar sobre medicamentos seguros e suas dosagens.
l Evite estocar remédios: Tenha em casa apenas os medicamentos necessários para tratamentos prescritos.
l Não use medicamentos vencidos: A validade comprometida pode tornar o remédio ineficaz ou perigoso.
l Acompanhe sua saúde regularmente: Manter consultas periódicas com seu médico garante o monitoramento adequado e a prevenção de problemas de saúde.
Apelo aqui para que os deputados federais e senadores priorizem a saúde da população ao votarem contra este projeto. O acesso facilitado a medicamentos não pode ocorrer às custas da segurança e bem-estar do cidadão. Que o cuidado com a vida prevaleça sobre interesses econômicos.
*Dra. Simone Neri é médica, colunista e ativista em saúde pública e ações sociais.