As Humilhações nos Sistemas de Proteção à Mulher

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Por Talita Andrade

Já fui vítima de violência doméstica e, quando mais precisei de ajuda dos órgãos de proteção à mulher, encontrei o DESACOLHIMENTO. Relatei minha experiência diversas vezes na internet e, surpreendentemente, muitas mulheres compartilharam relatos semelhantes. A violência contra a mulher, seja física, psicológica, sexual ou patrimonial, é respaldada pela Lei Maria da Penha, que foi criada para combater essa realidade, mas a prática nem sempre corresponde à teoria.

Há quase 40 anos foi inaugurada a primeira Delegacia da Mulher no estado de São Paulo, com o objetivo de oferecer atendimento especializado a mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência. Atualmente, existem mais de 140 unidades no estado, o que, à primeira vista, transmite uma sensação de segurança. Mas será mesmo, que a ampliação dessas unidades está tendo atendimentos efetivos e sendo um ambiente de apoio?

Há anos acompanho, pessoalmente, descasos, negligências e violências dentro desses sistemas. E pasmem, atendimentos realizados POR MULHERES. Muitas vezes, as vítimas de violência doméstica são tratadas como responsáveis pelo abuso que sofreram. Perguntas como “O que você fez para ele te agredir?” ou “Você não percebeu os sinais?” não buscam respostas, mas sim humilhar e culpabilizar a vítima.

Em um caso que acompanhei de perto, uma vítima de violência psicológica e patrimonial foi questionada por uma policial se realmente queria “sujar a ficha de um homem de profissão nobre” por causa de uma “ameacinha e uma pegada no braço”. A policial ainda sugeriu que ela procurasse apoio familiar em vez de “tentar se vingar” do ex-companheiro. Mesmo ela ouvindo toda a história, vendo as provas dos ataques, o status falou mais alto para dela.

Esse é o cerne da questão: a violência contra a mulher é muitas vezes banalizada e tratada como “vingança”, quando, na verdade, trata-se da luta pela dignidade, respeito e liberdade – direitos que não devem ser questionados. Na realidade, a vítima, ao buscar ajuda, não deve ser mais culpabilizada. Ela já carrega consigo a insegurança e o medo, principalmente por causa da pressão social, familiar e pela preocupação com os filhos. As mulheres só buscam a polícia quando a situação se torna insustentável.

A transformação do sistema de apoio demanda, em grande parte, uma mudança na forma como a sociedade lida com a violência doméstica. A pressão social pode incentivar o tratamento adequado das vítimas, garantindo que o sistema de proteção realmente cumpra seu papel: acolher, proteger e garantir os direitos das mulheres, para que diminua o ciclo de silenciamento e subordinação.

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