Por: Bia Santana
Num primeiro momento, as pessoas veem o deficiente visual como um ser incrível: como ela faz aquilo sozinha! Como andar, lavar louça e roupa, cozinhar, cuidar dos filhos, trabalhar e até mesmo se vestir sozinho.
Assim como tudo na vida, nada é mágica, mas sim aprendizado. Já comentei com vocês, que uma pessoa cega simplesmente não sai do nada andando com a bengala, tem um profissional que ensina toda uma técnica para ela.
Já pensou como uma pessoa cega faz arroz: deve estar passando mil maneiras em sua cabeça e com certeza a cozinha quase pegando fogo. Deixo aqui ao meu colega colunista Alexandre Frassini o desafio de um “Rango às cegas”. Através do som fazemos arroz, através do tato lavamos a louça, entre muitas outras atividades.
Existem centros de reabilitações para ensinar a pessoa cega a viver com autonomia. Equipes de psicólogos especialistas em perda de visão para auxilio da pessoa e familiares, terapeutas ocupacionais para atividades da vida diária, professores de orientação e mobilidade para andar com independência, professores de informática para softwares exigidos em empresas com leitores de tela, os famosos professores de Massoterapia, entre outros. Além de centros com foco na socialização com atividades de dança, esportes, passeios e etc.
Cito algumas das principais em São Paulo, mas procure em sua cidade caso necessite, isso pode mudar totalmente sua percepção de que: “a cegueira acabou com todos meus planos”.
Fundação Dorina Nowill: super conhecida no Brasil por sua grande batalha há muitos anos, trazendo pessoas de vários Estados para reabilitação, onde eu iniciei meu processo passando por psicólogo, terapia ocupacional para aprender a fazer qualquer coisa em casa e retornei recentemente para massoterapia, alguém ai para receber massagem terapêutica? E deixo minha eterna gratidão à Clarissa e Carol, todas minhas conquistas são nossas, obrigada por me darem as mãos e me ajudarem a seguir. A fundação fica na Vila Clementino, rua Diogo de Farias, próximo ao metrô Santa Cruz e Hospital São Paulo.
Adeva: além da reabilitação também tem muitas oficinas, dei uma breve passada por lá antes da pandemia e me interessei muito por cursos voltados ao mercado de trabalho como programação e acessibilidade digital, onde ainda aguardo ser chamada, além de ensino médio para deficientes visuais adultos. Fica na Vila Mariana, rua Samuel Tito.
CADEVI: Centro de apoio ao deficiente visual: aulas de braile, dança, ioga, pilates, xadrez, entre outras atividades bem bacanas. Fica próximo ao metrô Praça da Árvore, Rua dos Heliotrópios, Mirandópolis.
Projeto adote um cidadão em São Bernardo do Campo, Lar das moças cegas em Santos, Laramara mais voltada ao público infantil próxima ao metrô Marechal Teodoro entre dezenas no Brasil.
Essas instituições existem para reabilitar o deficiente visual sem nenhum custo, mantidas por doações e parcerias. Ajudam pessoas que como eu perderam a visão e hoje estou aqui com plena autonomia da minha vida, seguindo o mundo com minha bengala vermelha e me desafiando a realizar tudo o que um dia achei que não seria mais possível.
Ao perder a visão, eu me encontrei em um mundo junto com a minha família e meus amigos que não sabiamos o que eu cega poderia fazer.
Assim que cheguei na Fundação e a professora de mobilidade me falou: – você vai poder realizar tudo que você quiser, somente não vai conseguir dirigir e não recomendo atravessar avenida sozinha. E o resto vai conseguir fazer tudo, se você aceitar a minha ajuda, vou te auxiliar e aqui vamos te mostrar como realizar tudo que você acha que somente uma pessoa com visão pode fazer e se a gente não souber, vamos pesquisar para dar um jeito de ser possível.
Pensei comigo que aquela mulher era bem doida, pois claro que eu não conseguiria fazer, mal conseguia colocar água em um copo sem me molhar e inundar a cozinha… Pois hoje tenho certeza que ela estava correta.
Para minha trajetória foi extremamente importante me readaptar a minha nova realidade.
E acredito que por causa dessa situação e dessa frase, hoje quando alguém se dirige a mim falando que não dá para fazer, eu já mostro mil possibilidades.
Somente eu consigo dizer sobre as minhas limitações, prefiro morrer tentando uma adaptação do que desistir no início e ficar o resto da vida pensando porque não tentei.
A você que perdeu a visão, familiares e amigos, o céu é o limite para uma nova vida sem visão.
Jamais deixe ninguém falar que você não pode, procure auxílio, retire você mesmo suas próprias conclusões. Somente nunca aceite que você não pode dentro da visão das outras pessoas.
Espero no futuro muitas pessoas cegas como eu, teimosas que não aceitam ‘não’ de primeira e constroem histórias espetaculares.
Fico por aqui e até a próxima pessoal.