O Hospital Municipal de Barueri Dr. Francisco Moran (HMB), unidade da Prefeitura de Barueri gerenciada em parceria com a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, participou de mais um estudo científico sobre a Covid-19. Desta vez, o assunto é a visão, já que pacientes acometidos pela doença podem apresentar leves alterações ou graves lesões nos olhos.
Nos primeiros meses de 2020, o grupo de estudo, coordenado pelo Prof. Dr. Rubens Belfort Jr, professor titular de oftalmologia da Escola Paulista de Medicina e presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), notou modificações na retina de alguns profissionais de saúde que tiveram a forma leve de Covid-19, e publicou o primeiro artigo do mundo sobre alterações oftalmológicas relacionadas ao coronavírus. Essas alterações eram consideradas leves e não tinham acometimento na visão, mas demonstravam que o olho poderia ser um dos locais atingidos pelo estado inflamatório que o vírus causa no corpo.
“Depois da publicação de maio, em que notamos infartos da camada de fibras nervosas da retina e pequenas hemorragias, ampliamos o estudo e decidimos examinar casos mais graves porque a nossa hipótese principal era que os pacientes que tiveram a forma mais grave da Covid-19 teriam maior acometimento da retina. Essa hipótese foi confirmada e assim, começa a participação do HMB. Como eu coordeno a parte de oftalmologia do hospital há alguns anos, nós fizemos o exame de fundo de olho para avaliar a retina dos pacientes com Covid-19 que estavam internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”, explica Heloísa Nascimento, coordenadora de oftalmologia do HMB.
O estudo, feito entre março e junho de 2020 em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), foi desenvolvido com 60 pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva do HMB e com 44 pacientes de enfermaria do Hospital São Paulo. Dos 104 pacientes participantes, 21,9% apresentaram lesões oculares e 3%, lesões que comprometiam a visão.
“Mais de 20% demonstraram sinais de trombose no olho, ou seja, o sangue ficou mais espesso, e como a circulação da retina é muito fina tem maior chance de ter acidentes vasculares e pequenas tromboses, entretanto apenas 3% tinham alterações que poderiam piorar a visão porque a trombose foi em uma área nobre da retina, por onde a gente realmente enxerga”, esclarece a oftalmologista.
Em março de 2021, o tema foi aceito para publicação na revista médica Ocular Immunology and Inflammation Journal, e por isso teve grande repercussão. É importante ressaltar que o estudo ainda está em andamento e que os pacientes continuam em acompanhamento para avaliar a evolução do quadro. “Percebemos que o olho, assim como o restante do corpo, também está suscetível a sofrer as consequências do novo coronavirus. Mas, ainda não sabemos se essas consequências são um dano direto do vírus no olho ou se é causado pelo estado inflamatório gerado pelo vírus que facilita as tromboses ao longo do corpo inteiro”, comenta Nascimento.