Luizomar pela vida: o jogo mais tenso desse valente que é a marca do vôlei de Osasco

Capa Esportes Márcio Silvio

O técnico de Osasco foi parar na UTI por 11 dias para combater a Covid-19. Para evitar grande comoção com o time e a torcida da cidade, ele optou em manter as informações sobre seu caso de saúde em anonimato.


Quando ele pede tempo técnico, usa palavras-chaves que só o vôlei entende: “Nós não podemos tomar 5 a 0 na posição seis, galera! Eu inverti as ponteiras… Vai, pô, capricha aí! Ó, mais uma vez em cima da Jaque aqui… chutada logo após e da Tande lá. Tandêee! O saque, pô, quebrou lá, pega de novo aqui… ei, você em cima, na velocidade por cima da Jaque…”. Essa fala partia de um Luizomar de Moura tenso e com expressão sólida – era a terceira rodada do returno da 1ª fase da Superliga em 15 de janeiro e Osasco tombava feio em casa.

Dérbi regional contra o São Paulo Barueri. O time da casa venceu o primeiro set por 25 a 21, na segunda parcial o tricolor do técnico José Roberto Guimarães devolve o placar – e vira com 25 a 23. Quando Luizomar pediu esse tempo, as novinhas humilhavam com 10 a 3 no quarto set e logo fechariam a conta com 25 a 14.

Derrota à parte, esse seria o último tempo técnico de Luizomar de Moura. Em seguida o coronavírus tirou Osasco de cena com surto importante e ausentando a equipe de duas rodadas do nacional; voltaria em 2 de fevereiro pela Copa Brasil mas sem o treinador que já estava na batalha contra a doença – o assistente Jefferson Arosti comandou a equipe na Copa Brasil e segue na Superliga.

Quando testou positivo, Luizomar ficou sob intensa observação porque tem diabetes e, o vôlei se lembra bem, em 2016 ele deu aquele susto – jogo da Superliga no Liberatão, quartas de final contra o Curitiba Vôlei em 11 de março: primeiro set em andamento, ele passa mal e cai.

Recuperou-se rapidamente, a partida seguiu mas o técnico de Osasco foi levado para o hospital – arritmia cardíaca. Então, esse histórico forçava ainda mais os cuidados, agora sob o coronavírus. Na ocorrência da arritmia, Luizomar tinha 49 anos; no próximo 26 de maio ele completará 55.

Longe do vôlei desde aquela derrota para Barueri, o jogo do técnico é outro agora e o mais tenso. Como ele mesmo diz, é o jogo da vida – em 30 de janeiro precisou ser internado e logo para a Unidade de Terapia Intensiva; o procedimento foi mesmo importante porque Luizomar apresentava dificuldades para respirar e precisou de oxigênio.

A família era a única torcida próxima e, para não alarmar a própria equipe e o mundo do vôlei, decidiu não divulgar o quadro clínico dele; então, ouvia-se que Luizomar respondia bem aos tratamentos e que logo teria alta. No entanto, foram onze dias de UTI, onze dias dramáticos e com ele sofrendo ataque cruel.

Acontece que Luizomar não cedeu, não se entregou – ele usou tempo técnico consigo mesmo na UTI, com palavras-chaves que só ele sabe, que somente ele pode medir agora; e quando deixou aquela batalha cruel para retornar ao quarto do hospital, gritou vitória celebrando a vida.

O técnico fala que vencer esse jogo significa ter paz, amor e saúde – os dois primeiros fundamentos ele vem sacando bem desde sempre, agora vai treinar mais o terceiro. Esse é Luizomar de Moura, a marca do vôlei de Osasco.

História que vem de 1999
Em maio de 2006 o Finasa Osasco anunciava um jovem técnico em ascensão. Campeão brasileiro com o Flamengo em 2000, três anos depois assumia as categorias de base da Confederação Brasileira de Vôlei. Em 2005 comandou o Macaé no nacional e para fechar em terceiro lugar; foi quando a diretoria de Osasco se interessou por Luizomar.

Só que a linha do tempo dele com o Liberatão vem de tempos. Quando estava iniciando como assistente, o primeiro trabalho foi com o fera Willian Carvalho no São Caetano em 1995. No ano seguinte teria passagem pelo Leites Nestlé até chegar ao BCN Osasco em 1999 como auxiliar.

Rodaria por outras quadras conforme contado, até retornar ao Liberatão seis anos depois. Essa volta para Osasco seria o pacto de fidelidade – Luizomar que fora BCN, vestiria todas as demais camisas do clube.

Nesses longos anos, passou por intensas crises administrativas ao perder patrocinadores e ver o projeto caminhando para o fim. Acontece que ele não é só um treinador de vôlei, é um empreendedor esportivo; se hoje Osasco está em quadra, a história aponta para o longo jogo de bastidores vencido ano a ano.

Quando ele pede tempo técnico para puxar a orelha das atletas, fala aquele puro luizomarez que só elas entendem; mas para manter o projeto em alta e garantir viva essa tradição, Luizomar fala a voz de Osasco.

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