O clima no Brasil em relação a Copa do Mundo tem aquele sabor amargo, o torcedor ainda respira o Mundial da Rússia, afinal, estamos as vésperas da grande final que promete muitas emoções. De um lado a campeã mundial França que eliminou a Bélgica e do outro, a Croácia que busca o seu primeiro título. Dois jogadores são protagonistas nesta decisão, o francês Mbappé e o croata Modric. Será um jogo equilibrado, são duas seleções com muita qualidade, mas acredito mais no futebol da Croácia.
Mas voltando para o nosso quintal, é evidente que ainda tem uma bela dose de frustração e com aquele pensamento martelando a cada jogo que assistimos neste mundial, ‘o Brasil poderia ir além, quem sabe até decidir o título’. Porém, no meio do caminho tinha uma Bélgica, no percurso teve a infelicidade do gol contra de Fernandinho, na estrada do Hexa teve a genialidade de De Bruyne.
O torcedor brasileiro em especial, tem muita dificuldade para administrar derrotas, principalmente pela falsa realidade que o Brasil é uma fábrica insuperável de craques e que o mundo do futebol gira em torno da Seleção Brasileira. Fora todas as bobagens que sempre acaba circulando nas redes sociais do tipo: “O Brasil vendeu a Copa para esse ou aquele”, que tem o único objetivo de amenizar um pouco a dor da derrota. Existe também sempre a ideia de buscar um culpado, como ocorreu nos mundiais que o Brasil não conquistou o título
É sempre uma visão muito limitada, a discussão e o debate em torno da Seleção Brasileira precisa ser muito mais profunda, é muito importante tentar entender porque o Brasil não teve sucesso na Copa do Mundo e não ficar apenas dentro de discussões superficiais e que não levam a lugar nenhum.
O primeiro ponto é a capacidade de Tite. Essa é uma questão importante, o Brasil conta com um técnico extremamente competente e já demonstrou isso ao longo da sua carreira e até dirigindo a Seleção. Porém, o trabalho do técnico Tite precisa ser avaliado e cobrado sim. Isso não significa buscar um culpado, mas corrigir rotas para que os mesmos erros não sejam repetidos no futuro. Ninguém é Deus, a cobrança faz parte do futebol.
O primeiro ponto é a convocação, cada técnico tem a sua convicção, porém, Tite apostou muito em jogadores que fisicamente não estavam na sua melhor forma. Tite reconheceu que não usou Fred durante o Mundial por causa de uma lesão, a opção de manter um jogador lesionado na lista, enquanto um jovem talento como Arthur, que poderia ser um bom substituto para Casemiro, não poderia ter ocorrido.
O sistema de rotação de capitães não funcionou, isso inibiu claramente dentro do elenco o surgimento de uma liderança. O Brasil não tinha um líder dentro de campo e a disputa pela faixa de capitão poderia contribuir para aflorar um novo líder. Tite expôs muito a escalação do Brasil e com muita antecedência. É sempre saudável deixar o técnico adversário com uma certa dúvida do time que você vai escalar. Enquanto o Brasil tinha dúvidas da formação Belga, o técnico brasileiro não deixava duvidas da equipe que iria a campo.
No jogo contra a Bélgica, Tite cometeu alguns erros táticos e o principal deles foi cair na armadilha do espanhol Roberto Martinez. A equipe belga fez questão de dar a bola ao Brasil, oferecendo até uma falsa liberdade para o Marcelo atacar pelo lado esquerdo do campo. Uma estratégia perfeita e funcionou muito bem. Quando Lukaku afunda na ponta direita, com De Bruyne por dentro como falso 9 e o Hazard não deixando Fagner subir. Abriu um buraco no meio campo do Brasil que deixou Fernandinho, completamente perdido e De Bruyne deitou no corredor do Marcelo. Um problema tático que quando Tite percebeu, a Bélgica já vencia por 2×0.
Tite morreu abraçado com as suas convicções: A primeira e mais gritante Gabriel Jesus, não funcionou na Copa do Mundo desde o primeiro jogo, não fez um gol durante o mundial, não criou jogadas importantes e não poderia ter continuado na equipe principal, enquanto o campo gritava que Firmino, estava em melhores condições técnicas. O argumento que Gabriel Jesus tinha uma função tática importante é apenas uma desculpa, atacante tem que fazer gol, assim como goleiro precisa defender. Aliás, no gol Alisson, provou que é um goleiro muito comum para ser titular absoluto, não fez nenhuma diferença nos jogos. Paulinho não esteve bem na sua principal função, não teve intensidade na marcação e a saída de bola era frágil, acredito que só permaneceu no time porque fez o gol contra a Costa Rica.
São erros que um técnico da Seleção Brasileira não pode cometer na Copa do Mundo, que é uma competição muito curta e por este aspecto não oferece uma segunda chance. Acredito que tudo isso precisa ser avaliado, antes de pensar no planejamento para o próximo mundial. Sempre gostei da ideia de um técnico com experiência europeia na Seleção Brasileira, como por exemplo, José Mourinho, mas não crio muitas ilusões, até porque, os dirigentes da CBF não teriam competência para tanto e as apostas são sempre nos escudos caseiros.
Virou rotina na Confederação Brasileira de Futebol contratar um técnico com aprovação nacional e transferir todos os problemas para ele. Dentro do futebol brasileiro o melhor técnico continua sendo o Tite. Continuidade do trabalho é sempre positiva, mas é preciso alguns ajustes, Tite precisa ter um chefe direto que divida um pouco as responsabilidades. Edu Gaspar até pela última entrevista coletiva que concedeu, mostrou que não tem condições de ser a liderança executiva que o Brasil precisa neste momento.
O convidado especial Luis Marcelo Bigatto é radialista da Rádio 105 FM e colunista do Correio Paulista