A percepção de (in)segurança de um negro

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Aí você acorda em pleno domingo. Vai regar suas plantas. Sai no portão da sua casa com uma garrafa d’água e quando menos espera tem dois camburões na porta da sua casa com policiais descendo armados e te enquadrando.

Acho que todos concordamos que essa cena não aconteceu em Alphaville ou Parque dos Príncipes né? Não, aconteceu aqui no Jardim Santo Antônio, zona Sul de Osasco, bairro onde moro desde sempre. Aqui na porta da minha casa. Comigo um homem negro, que estava descalço na porta da seu lar.

Mas claro que está tudo certo. São só os agentes da lei nos protegendo. Deslocando duas viaturas para enquadrar um homem negro, casado, pai de três filhos, candomblecista e que estava colocando a sociedade em perigo ao regar suas plantas. Aliás uma ótima gestão de recursos públicos.

Dei uma olhada nos principais portais de notícias, antes de falar um pouco sobre o assunto e não vi nenhum dos conhecidos criminosos do “Colarinho Branco” recebendo tal visita em sua casa, mas vi diversas notícias de operações como a “Natal Seguro” abordando e prendendo algumas pessoas que tenham determinados traços que nos tornam suspeitos.

Minha inquietude é que tais pessoas que são abordadas, em sua maioria são negras ou possuem alguma afrodescendencia, são moradores de regiões periféricas, estão como eu em frente as suas casas ou dando um role na quebrada onde nasceram ou vivem.

Claro! Tais ações servem para impedir que aconteçam crimes principalmente nas áreas centrais. Não é isso? O problema eh que mesmo nas áreas centrais não vejo brancos de terno sendo abordados. Mas vá para o centro de bermuda e chinelo e já pode esperar para receber uma atenção especial dos agentes da lei que nos protegem.

Enfim só gostaria de agradecer por me sentir tão seguro em meu lar e pelo maravilhoso trabalho dos agentes da lei que me protegeram ao regar minhas plantas. Nunca me senti tão seguro.

E para meus amigos que moram em bairros mais nobres peço desculpa por não receberem a mesma atenção que nós que moramos em bairros periféricos recebemos.

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