Após visitar ruas, museu e outros patrimônios do município, estudantes viram coautores de obra “Osasco – A cidade da gente”, com lançamento dia 24/11
Era uma vez, uma cidade chamada Osasco. Um dia, os alunos que lá moravam perceberam o quanto a história daquele lugar fazia parte de suas próprias vidas. Resolveram, então, escrever sobre a estação de trem, a Capelinha, as ruas com nomes italianos, as carrocinhas de “dogão”, reunindo tudo no livro “Osasco – A cidade da gente”. A obra, com 80 páginas, ficou pronta e será lançada na sexta-feira, dia 24, na escola Profª Lucy Anna Carroso Latorre, com direito à sessão de autógrafos dos próprios estudantes às 13h30.
Osasco é um dos municípios escolhidos para ter sua história retratada por seus alunos dentro da coleção “A cidade da gente”. Ao todo, 36 cidades de norte a sul do país, já ganharam – ou estão perto de receber – um livro ilustrado sobre os seus patrimônios, feito em parceria com professores e estudantes das escolas públicas locais, que assinam como coautores das obras. Neste ano, a coleção é finalista do Prêmio Jabuti, na categoria “Fomento à leitura”.
O processo da escrita dos livros começa com a seleção de alunos de diversas escolas da rede pública municipal ou estadual para pesquisarem sobre os patrimônios de suas cidades, seguindo um roteiro de temas sugeridos por seus gestores e professores. Após a investigação dos assuntos, as turmas dissertam sobre eles e esse material vira o subsídio literário para que escritores profissionais costurem, de trecho em trecho, a narrativa final do livro.
No caso de Osasco, o projeto contou com o apoio da Secretaria Estadual de Educação e o patrocinado da empresa Lwart Soluções Ambientais, por meio do Proac, uma Lei Estadual de Incentivo à Cultura. As escolas estaduais participantes foram a Vicente Peixoto, Jardim Santa Maria, a Lucy Anna Carrozo Latorre, a Educador Paulo Freire, a Júlia Lopes de Almeida e a José Liberatti.
Todas elas incentivaram a visita dos alunos a pontos culturais e conhecidos do município, como a estação de trem, por exemplo. Lá, a garotada descobriu que a ferrovia foi construída nas terras da fazenda de Antônio Agù, o fundador do primeiro povoado no local, que batizou o lugar com o nome da sua cidade natal na Itália: Osasco, na região de Piemonte.
Também aprenderam que a imigração italiana foi responsável por nomear algumas ruas da cidade, como a Primitiva Vianco, a Fortunato Antiorio, a Clorinda Rinaldi Mazzo e, claro, a Rua dos Imigrantes Italianos. Por fim, desvendaram a história por trás do nome “Avenida dos Autonomistas”: a antiga Estrada São Paulo-Itu ganhou um novo nome em homenagem às pessoas que lutaram para Osasco deixar de ser um distrito e virar uma cidade autônoma.
Reconhecimento – O projeto “A Cidade da Gente” – que ganhou o prêmio Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro e concorre ao Prêmio Jabuti este ano na categoria Fomento à Leitura – existe desde 2015. Criado pela editora Olhares, a iniciativa conta com o patrocínio de empresas interessadas em apoiar não apenas o trabalho de pesquisa dos alunos, como também promover a história da região onde atua, por meio de leis de incentivo à cultura.
“Essa atividade favorece a aprendizagem, pois trabalha com temas envolventes e de interesse direto para as crianças, fazendo com que elas conheçam e valorizem os patrimônios de suas cidades”, afirma Otávio Nazareth, editor da Olhares e coordenador do projeto. “Ao mesmo tempo, o projeto estimula a leitura e a produção textual já que os estudantes são os coautores da obra”, acrescenta ele.
Produzidos geralmente em pequenos e médios municípios, os livros têm de 1.700 a 2.600 exemplares doados para o uso didático nas escolas da rede pública de educação. O projeto também incentiva o pensamento crítico dos estudantes durante a produção autoral, como preconiza a Base Nacional Curricular Comum, do Ministério da Educação.
A escrita do livro costuma durar um ano letivo, num processo que se inicia pela explicação da metodologia para a comunidade escolar envolvida, seguido por reuniões virtuais periódicas, a presença da equipe em campo, a criação e edição dos textos e ilustrações, até chegar ao grande lançamento quando os alunos e escritores assinam juntos o livro.
Após a publicação, o projeto oferece ainda uma formação de professores para reunir ideias de uso do livro em diferentes disciplinas, estimulando o uso pelas turmas ano a ano, em temas diversos, por muitas gerações. Trazendo o ponto de vista das crianças, a coleção consegue perpetuar a memória das cidades abordadas, além de ampliar as noções de identidade e pertencimento dos estudantes sobre a cidade onde vivem.