Café com Luizomar: tem lamento por eliminação, torcida, Tandara e 16 anos de Osasco

Esportes Márcio Silvio

llNesta sexta-feira rola o jogo dois da final da Superliga Feminina, mata-mata mineiro que tem o Itambé Minas na frente: na primeira partida da decisão, fez 3 a 1 no Praia Clube com 25 a 18, 25 a 22, 20 a 25 e 25 a 22. Jogão em Brasília, sexta passada e com mais de 9 mil torcedores na Arena Nilson Nelson. “Você viu? E eu digo pra você que quando montamos nossa equipe a expectativa era de brigar pelo título. Mas tivemos problemas, perdemos nossa principal pontuadora…”
Hoje tem o jogo dois no mesmo ginásio em Brasília às 21h, ao Praia Clube só resta devolver a derrota para forçar tira-teima na terça 3 de maio. “Acompanhe essa decisão mas imagine nossa equipe original… Com certeza não teríamos caído nas quartas de final e com grandes chances de estarmos aí brigando pelo título.”
Quem está falando é Luizomar de Moura, técnico do Osasco e ainda cadenciando o lamento pela eliminação numa série duríssima contra o Sesc Flamengo: “Mas não ficamos nessa de mimimi, somos profissionais e demos nosso melhor. Nunca caímos numa segunda fase, dessa vez aconteceu. A gente lamenta, fica triste mesmo, foi doído mas o projeto segue e estamos firmes pra sequência da temporada.”
Quando a reportagem do Correio Paulista chegou para um café com o técnico, ele já estava saboreando e levantou-se rapidamente. O Luizomar de Moura versão 2022 mostra visual mais enxuto do daquele de um ano atrás, internado vítima do coronavírus e que teve um set de 12 dias para vencer a doença.
“Ali no quarto do hospital, muita coisa passou pela cabeça. A gente acaba mesmo caindo numa reflexão. Graças ao apoio de todos, principalmente da família, venci e depois passei a dar um trato no corpo por qualidade física”, explicou.
Junto com o café, água com gás. E ao contrário de outras personalidades ligadas no ego, sem o celular à mão para exibir ligações diretas, nenhuma ostentação. “A gente se conhece há anos”, disse ele à reportagem do jornal. “Você nos acompanhou nos grandes momentos e nos críticos também. Agora estamos nos recuperando de um baque mas com trabalho em andamento porque o jogo segue.”

BCN 1999
Luizomar é muito família, curte essa de honrar a tradição e a história dos pais. Natural de Caruaru, em maio ele completará 56 anos. Nessa contagem, são 23 à beira da quadra do vôlei como técnico.
Ele mora em São Caetano do Sul e onde tudo começou, depois jogador de vôlei e início de carreira como treinador – era 1995 quando foi apresentado pelo técnico Willian Carvalho como assistente no Uniban São Caetano.
Três temporadas depois e aos 29 anos em 1999, ele pegava acesso a Osasco pela primeira vez – Sérgio Negrão era técnico do BCN e o novato se apresentava para atuar como assistente. Só para lembrar, no Liberatão de Presidente Altino a torcida aplaudia estrelas como Ana Moser, Janina, Andréa Teixeira e Gisele, todas selecionáveis; outras feras como Fofinha e Marcelle completavam a rede… ah, e tinha uma estrangeira, a americana Danielle Scott.
O aprendiz de técnico ficou somente uma temporada em Osasco, em 2000 estreava como titular à frente do Flamengo e para surpreender como campeão brasileiro. Isso mesmo, primeira temporada como treinador e dá-lhe título.
Atento ao mercado, o Finasa (sucessor do BCN) observa a ascensão dessa novidade e a contrata – maio de 2006, Luizomar recebia os cliques da imprensa e falava como novo técnico de Osasco (no lugar de Paulo Coco, hoje finalista da Superliga com o Praia Clube): “Estou voltando pra casa que deixei em 2000.”
Essa assinatura de Luizomar conta 16 anos desde então: o Finasa sairia de quadra em 2009 para a chegada da Nestlé como Sollys; em 2013 a megaempresa mudaria para Molico; dois anos depois outra mudança, dessa vez com a própria razão social, Nestlé.
Nove anos de patrocínio, em 2018 a multi anuncia fim do projeto e Luizomar de Moura se vê novamente na rua – após o trágico abril de 2009 com o Finasa. Mas dessa vez não houve tanta sangria porque Osasco vai rápido no suporte e o clube de futebol Audax assume a causa.
Depois disso o Bradesco voltaria ao vôlei profissional formando pool com outras grandes marcas e, atualmente, o São Cristóvão Saúde é o titular da camisa que tem a Havan em segundo plano.

TANDARA, O NOCAUTE
Não tem como não falar da oposto Tandara, principal nome do vôlei de Osasco e que hoje paga suspensão por doping. Expulsa dos Jogos Olímpicos e das quadras, a potência da camisa 16 fez toda falta do mundo na Superliga.
“Certamente nossa equipe não teria caído nas quartas de final. Quando montamos o time, Tandara puxava o ataque. Mas sofremos esse nocaute e improvisamos com a ponteira Carla”, detalha Luizomar.
E foi um improviso que bagunçou os adversários porque a ponta mostrou um saque absurdo destruindo geral – tanto que fecha a Superliga como a melhor no fundamento. Isso à parte, o time teve problemas no passe e, também, por inconsistência das atacantes.
A ponteira Michelle foi a mais regular, já as centrais não bateram o paredão da temporada anterior que tinha Mayany e Bia. A líbero Camila Brait é sempre em alta voltagem mas que se ausenta do vôlei para ser mamãe pela segunda vez.

TORCIDA, A RIQUEZA
Luizomar pede outro cafezinho antes de falar do que ele chama de a razão de ser do vôlei: “Nada disso teria valor sem a torcida. Ter o apoio do torcedor e da forma apaixonada como é, não tem preço. A torcida está triste pelo que aconteceu mas, tenho certeza, a torcida sabe que Osasco seria outro se tivéssemos Tandara.”
E continua: “É como se um time de futebol contrata o Cristiano Ronaldo mas perde o craque por algum problema. Faria diferença ou não? A ausência da Tandara quebrou nosso plano tático. Isso não é justificar nada, é questão técnica. E eu sei que o torcedor tem essa noção. Prova disso você verá em nosso retorno ao Liberatão na sequência da temporada – casa cheia com nossa maior riqueza que é a torcida.”

LUIZOMAR INTERNACIONAL
O grande sonho de Luizomar ele deixou bem claro em 2017 ao assumir a seleção do Peru – o técnico acumulava esse expediente internacional por Tóquio 2020.
O planejamento seria estruturar o vôlei peruano, depois brigar por vaga olímpica. Mas aconteceram problemas por lá e o brasileiro acabou dispensado um ano depois.
Quatro anos após a frustração no Peru, novamente ele entra em rota olímpica e assume a seleção do Quênia. Dessa vez não deu erro, abertura dos Jogos em Tóquio e Luizomar em quadra, sonho pago. E atenção que o treinador continua em modo internacional, pois conversa com o Quênia por Paris 2024.

NOMES
O mercado do vôlei escancara as portas e há nomes pipocando no radar de Osasco: levantadora Giovana/Sesc Flamengo, líbero Natinha/Sesc Flamengo, central Adenízia/Sesi Bauru, ponteira Suelle/Sesi Bauru.
A chegada de Giovana justifica a saída de Fabíola; a ponteira Michelle é citada para duas camisas, Flamengo ou Bauru. Por fim, duas estrangeiras na cotação: a oposto polonesa Malvina Smazek que estava no russo Lokomotiv, a ponteira americana Yossiana Pressley que defendeu o francês Mulhouse.

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