Uma matéria veiculada na tevê sobre uma passarela da CPTM, no município de Mauá, chamou minha atenção nesta semana. Uma estrutura completamente comprometida, com sinais evidentes de corrosão e trincas, que já deveria ter sido reformada há anos, mas, no entanto, definha aos olhos de todos e coloca em risco a vida de seus usuários.
Apesar da reclamação antiga, uma ação efetiva para resolver o problema só está sendo tomada após denúncias e exposição do problema pela imprensa. O caso serve para exemplificar uma situação rotineira em nossas cidades. Por que negligenciamos tanto a manutenção preventiva, que é muitas vezes menor que a corretiva? Recentemente, a queda do tabuleiro de um viaduto na Marginal do rio Pinheiros alarmou a população e autoridades. Deu-se, então, início a uma correria generalizada para vistoriar estruturas semelhantes não apenas na capital paulista, mas em toda parte.
Há alguns anos, em janeiro de 2013, o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), provocou a morte de centenas de jovens e motivou uma enxurrada de vistorias em casas noturnas e similares de norte a sul do Brasil. E, mais recentemente, os rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho (MG) mexeram com o país e o mundo, forçando autoridades e responsáveis a intensificarem medidas de controle e segurança.
Por que providências são tomadas, muitas vezes, somente depois de denúncias, cobranças e exposição através da imprensa ou, pior, após a ocorrência de acidentes e tragédias? Não gosto de respostas simplistas para questões complexas, pois costumam resultar de análises superficiais. Tenho, porém, a convicção de que essa dinâmica perversa está relacionada diretamente com nossa cultura social. Entre a reforma do telhado ou a troca do carro, priorizamos o segundo, de maior visibilidade pública.
Em vez do conserto do sistema hidráulico, compramos um moderno aparelho de TV e o encanamento fica pra depois. E o carro que só vai ao mecânico quando para de funcionar. A verdade é que em nossas vidas pessoais frequentemente temos postura semelhante, adiando medidas prioritárias. Um comportamento pessoal e coletivo que deveria ser mudado.