Dinâmica perversa

Colunistas Oscar Buturi

Uma matéria veiculada na tevê sobre uma passarela da CPTM, no município de Mauá, chamou minha atenção nesta semana. Uma estrutura completamente comprometida, com sinais evidentes de corrosão e trincas, que já deveria ter sido reformada há anos, mas, no entanto, definha aos olhos de todos e coloca em risco a vida de seus usuários.

Apesar da reclamação antiga, uma ação efetiva para resolver o problema só está sendo tomada após denúncias e exposição do problema pela imprensa. O caso serve para exemplificar uma situação rotineira em nossas cidades. Por que negligenciamos tanto a manutenção preventiva, que é muitas vezes menor que a corretiva? Recentemente, a queda do tabuleiro de um viaduto na Marginal do rio Pinheiros alarmou a população e autoridades. Deu-se, então, início a uma correria generalizada para vistoriar estruturas semelhantes não apenas na capital paulista, mas em toda parte.

Há alguns anos, em janeiro de 2013, o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), provocou a morte de centenas de jovens e motivou uma enxurrada de vistorias em casas noturnas e similares de norte a sul do Brasil. E, mais recentemente, os rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho (MG) mexeram com o país e o mundo, forçando autoridades e responsáveis a intensificarem medidas de controle e segurança.

Por que providências são tomadas, muitas vezes, somente depois de denúncias, cobranças e exposição através da imprensa ou, pior, após a ocorrência de acidentes e tragédias? Não gosto de respostas simplistas para questões complexas, pois costumam resultar de análises superficiais. Tenho, porém, a convicção de que essa dinâmica perversa está relacionada diretamente com nossa cultura social. Entre a reforma do telhado ou a troca do carro, priorizamos o segundo, de maior visibilidade pública.

Em vez do conserto do sistema hidráulico, compramos um moderno aparelho de TV e o encanamento fica pra depois. E o carro que só vai ao mecânico quando para de funcionar. A verdade é que em nossas vidas pessoais frequentemente temos postura semelhante, adiando medidas prioritárias. Um comportamento pessoal e coletivo que deveria ser mudado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *