Quando se imagina a arte do grafite, vem logo à cabeça uma moçada cheia de energia e vigor com spray na mão expressando sua arte. E é isso mesmo! Um grupo de idosas que frequenta o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Parque Imperial aprende a técnica de grafite e cria obras inspiradoras que estão em exposição na Secretaria da Mulher.
As aulas de grafite fazem parte do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos ofertados pelos Cras com a proposta de otimizar as relações familiares e comunitárias por meio de oficinas e atividades para todas as idades.
As Basquianas
Composto em sua maioria por mulheres, o grupo de grafiteiras do Cras Parque Imperial ganhou o apelido de “As Basquianas”. Isso porque em 2018 visitou uma exposição sobre Jean-Michel Basquiat, primeiro artista plástico negro americano a tornar-se referência no estilo neoexpressionista.
“O grupo transferiu para as telas a mesma sagacidade de Basquiat, usando traços primitivos e únicos, com técnicas misturadas. Cada um tem o seu traço e explora outros materiais. Isso deu margem para desenvolver outras técnicas através do pincel, da canetinha e do lápis”, explica o professor de grafite Eric Reis Alves.
Mulheres fortes
Além de aplicar as técnicas, o grupo também levou para o acervo as críticas sociais, elemento tão marcante na arte de Basquiat, com criações que trazem referência ao “silenciamento” social feminino, assim como homenagens a mulheres influentes como Carolina de Jesus, Maria Bonita e Elza Soares. Vale lembrar, as obras não têm autor único, ou seja, todos participam coletivamente da construção das telas.
Colcha de retalhos
Na exposição, o visitante também se depara com a criação “Colcha de retalhos”, a qual compõe tecidos pintados e costurados pelas idosas. Em cada retalho foi registrado em desenhos o olhar de cada artista sobre a sua comunidade: o Parque Imperial.
“Como somos um grupo de idosos, a gente resgata muita coisa da infância. Quando eu era criança não tinha acesso à pintura. Através da arte, a gente quis expressar cada lugarzinho do Imperial. Eu quis pintar o meu bairro como era antigamente, quando tinha um campinho com chão de terra”, relatou dona Maria de Fátima Araújo, de 67 anos.
Inspirações
Rosalina de Oliveira, de 63 anos, revela que durante a pandemia, quando as oficinas do Cras foram interrompidas, sentiu muita falta de pintar e criou uma tela que retratou de forma abstrata o que estava vivendo naquele período de confinamento.
“Eu tenho muita inspiração e na pandemia eu estava com saudade de pintar e comecei a rabiscar. Eu me sinto uma criança, no meu tempo não tinha lápis de cor. Quando eu vejo o resultado, não acredito que fui eu que fiz. Eu sou feliz no Cras, somos uma grande família”, revela emocionada.
História de amor
Os idosos Antonilson Pinheiro Gomes, de 67 anos, e Maria de Lourdes Lima Gomes, de 70 anos, fazem questão de revelar que a sua história de amor começou nas aulas de grafite.
Em meio a troca de olhares e muito bate papo, os companheiros de pintura começaram a namorar e tornara-se companheiros de vida. Estão casados desde 2019. “É muito interessante participar de um grupo e saber a sua capacidade, e como isso pode transformar sua vida”, conta Antonilson sobre a importância do convívio social.
“Gostei muito de pintar a Maria Bonita porque sou nordestina, e hoje eu encontrei o meu Lampião”, brinca dona Maria de Lourdes ao falar sobre sua história de amor.
Serviço
“As Basquianas” está em exposição até o dia 19 de abril na sede da Secretaria da Mulher, que fica na rua Sebastião Davino dos Reis, 756 – Vila Porto.
O Cras Imperial está localizado em novo endereço: na rua Pero Vaz de Caminha, nº 08, no Parque Imperial. Para mais informações sobre as atividades oferecidas pelos Cras, ligue para (11) 4199-2800.