Metralhadoras furtadas do Exército de Barueri são encontradas pela polícia civil em São Roque, interior de SP, escondidas em lamaçal

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Nove das 21 armas desviadas por militares, em setembro, de um quartel do Exército em Barueri, Grande São Paulo, foram recuperadas pela Polícia Civil na noite desta sexta (20)

Por: g1.com

As nove das 21 metralhadoras que foram furtadas em setembro do Exército acabaram encontradas pela Polícia Civil, na noite desta sexta-feira (20), em São Roque, interior de São Paulo, escondidas no lamaçal de uma área de mata. Vídeos divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram o local.

Foram recuperadas quatro metralhadoras calibre 7,62 e cinco metralhadoras calibre .50 – conhecidas por poder de fogo e alcance para derrubar até aeronaves. O Exército foi chamado e reconheceu o armamento pelo número de registro.

O conjunto faz parte das armas que foram desviadas por militares, no período do feriado de 7 de setembro, de um quartel do Exército em Barueri, Grande São Paulo. O crime só foi descoberto em 10 de outubro, durante inspeção no Arsenal de Guerra, que sentiu falta de 13 metralhadoras, 50 e oito metralhadoras 7,62 que sumiram.

“As armas são muito pesadas e de difícil locomoção. Então elas estavam escondidas lá. E os indivíduos que estavam lá iam carregar um veículo com as armas. Só que nós chegamos antes. E ai achamos o local dessa forma. Aí eles fugiram e localizamos as armas, todas ali dentro desse alagadiço ali”, disse o delegado Marcelo Prado, titular do 1º Distrito Policial (DP) de Carapicuíba, na região metropolitana, em entrevista neste sábado (21) ao g1. “Isso. Escondidas ali. Dentro da lama, molhadas. Nós tivemos que limpar as armas, inclusive. Que estavam todas sujas de barro”.

De acordo com o delegado, os policiais chegaram a trocar tiros com pelo menos dois criminosos que estavam guardando as armas para entregar a outros bandidos. Eles conseguiram fugir. Uma viatura policial foi atingida por pelo menos três disparos, mas ninguém se feriu.

“Surgiu a informação de que ontem [sexta-feira] haveria um carregamento de armas naquele local. Nós fizemos a diligência rapidamente e confirmamos. Os indivíduos nos receberam já armados. Efetuaram disparos contra os policiais que estavam na viatura. Os policiais revidaram. A viatura foi bastante alvejada por disparos de arma de fogo e esses indivíduos acabaram fugindo, num lugar bem ermo, escuro, à noite, numa estrada de terra”, disse o delegado.

Armas iriam para CV e PCC, diz SSP

O secretário da Segurança Pública de São Paulo (SSP), Guilherme Derrite, disse que o setor de inteligência da polícia conseguiu saber que o armamento seria entregue para criminosos entre esta sexta e sábado, em São Roque, e enviou uma equipe até o local.

A suspeita da SSP é de que todo arsenal furtado do Exército iria ser negociado e vendido para facções, como o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que age principalmente em São Paulo.

“Elas [as metralhadoras] tinham endereço certo. A informação que se tem é que tanto Comando Vermelho quanto PCC seriam os destinatários finais desse armamento”, disse Derrite na manhã deste sábado durante coletiva de imprensa em um evento na capital.

Segundo o Instituto Sou da Paz, esse foi o maior desvio de armas da história do Exército brasileiro desde 2009, quando sete fuzis foram roubados e depois recuperados pela polícia de um batalhão em Caçapava, interior de São Paulo.

Na última quinta-feira (19), mais oito armas (quatro.50 e outras quatro 7,62) já tinham sido localizadas e recuperadas pela Polícia Civil no Rio de Janeiro. Nenhum suspeito foi preso. Das 17 metralhadoras recuperadas, outras quatro (todas calibre .50) continuam desaparecidas e são procuradas pelas autoridades.

O que diz o Exército

Por meio de nota, o Comando Militar do Sudestes (CMSE) do Exército informou que as nove armas foram recuperadas numa ação conjunta com com a Polícia Civil de São Paulo.

“O Comando Militar do Sudeste informa que na madrugada do dia 21 de outubro foram recuperadas mais 9 (nove) metralhadoras, sendo 5 (cinco) calibre .50 e 4 (quatro) calibre 7,62 (totalizando 17 armamentos), fruto de uma ação integrada do Exército Brasileiro com a Polícia Civil do Estado de São Paulo. Todos os esforços estão sendo envidados para a recuperação total dos armamentos subtraídos”, informa comunicado enviado à imprensa pela assessoria do CMSE.

Mas o delegado Marcelo, do 1º DP de Carapicuíba, negou ao g1 que a Polícia Civil tenha encontrado as armas em uma operação integrada com o Exército.

“Única e exclusivamente da Polícia Civil de Carapicuíba. Nada do Exército”, disse Marcelo. “Nada o Exército passa…”

Em entrevista à TV Globo, o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, disse que as metralhadoras voltarão para o Exército após perícia da polícia.

“Nós já estamos de posse já dessas 17 armas [recuperadas]. Vamos atrás ainda dessas quatro que estão faltando. E estamos com Inquérito Policial Militar [IPM] em curso para identificar também os responsáveis por esse desvio do material do Arsenal de Guerra de São Paulo”, disse Maurícío.

O Exército constatou ainda que mais de três militares participaram do crime. A suspeita é de que eles foram cooptados por facções interessadas em comprar as metralhadoras para usarem em ações criminosas.
Por causa do desaparecimento das metralhadoras, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, diretor do Arsenal de Guerra, foi exonerado, conforme publicação do Diário Oficial da União. Ele será transferido para outro quartel e continuará na ativa. Em seu lugar, assume o novo diretor, o coronel Mário Victor Vargas Júnior, de 48 anos, que comandará a base em Barueri.

 

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