Ao chegar ao Sesc Osasco, uma moça com seus cabelos crespos cor-de-rosa olha a cidade por trás dos seus óculos de sol de aros brancos. As cores vibrantes e neon desenham suas roupas, que exibem padrões geométricos, remetendo às culturas africanas. Na boca, o batom orna com as madeixas, nos olhos, um delineado azul. Esse é o painel criado pela artista brasileira Criola, natural de Belo Horizonte, que exibe artes de rua tanto em São Paulo como em outras cidades do mundo, e agora chega a Osasco.
O painel é parte de uma série iniciada durante a pandemia, quando a artista começou a experimentar a arte digital, levando o que já fazia na rua para dentro de casa, devido ao lockdown. Foi quando a paleta de cores presente no painel do Sesc Osasco começou a aparecer: muito azul e muito cor-de-rosa.
“Comecei a retratar personagens com padronagens nas roupas, com um lifestyle mais urbano afrofuturista. Um futuro que já é real, mas que é uma manifestação recente, pretos e pretas ostentando cabelos coloridos”, comenta Criola, que também é formada em moda. Para ela, a cor é vibração, uma oportunidade interferir no cenário cinza que se encontra todos os dias na cidade.
Para a artista, que pinta desde 2012, a rua é o lugar de encontro múltiplo. “É um lugar potente do ponto de vista de reverberar mensagens para o todo sem intermediários. É atitude de tomar como seu aquilo que realmente é”, diz.
Criola traz para sua arte suas vivências como mulher preta na sociedade brasileira, ainda permeada diariamente pelo racismo. “A partir do momento que faço isso, minha trajetória artística se torna um documento que retrata uma realidade histórica do nosso país, servindo de material de estudo para entender uma era”, comenta a artista.
Pintar no Sesc Osasco é, para ela, conversar com a periferia. “Acredito que um trabalho dessa dimensão na fachada do Sesc irá interagir diretamente com a realidade dessas pessoas, que é a minha também.”. Por mim, Criola coloca em palavras o que na sua visão é a arte de rua: verdade, humanidade e transgressão.