PARA SEMPRE SÔNIA RAINHO

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Era uma noite fria de 1978. Um grupo de jovens do Km 18 fora convidado para uma reunião no Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco. Lá fomos nós.

Também tinha sido convidada a Dona Sônia Rainho, líder popular que emergia do Bel Jardim, na Zona Norte da cidade.

Minha insolência juvenil permitiu-me criar a expectativa de conhecer Sônia Rainho, uma mulher que já era um exemplo como militante.

Ao ouvir suas palavras, logo identifiquei uma guerreira completa, que carregava a principal qualidade de um cristão: a coerência em falar e fazer, ou seja, obras e fé. Foi amor companheiro à primeira vista!

A partir dali, agarrei-me a Sônia e só a largarei hoje, porque ela, sem combinar comigo, resolveu partir. Mas sei que ela deixa o compromisso de um dia a gente se encontrar de novo e, quem sabe, travar novas lutas sob as barbas de Deus.

Ah Sônia, você podia ter tomado o último trago comigo! Quantas doses tomamos para espantar o frio das ocupações? Por que não achamos um novo terreno e levantamos uma nova Pixote? Eu poderia te abraçar mais forte quando seu irmão morreu e você chorou comigo. Aliás, eu poderia ter feito mais por você, mas me perdoa. A vida é dura, você sabe bem, e tive que andar para não enlouquecer de tristeza e melancolia. Mas saiba que sempre guardei você no coração.

Se me perguntarem de um exemplo de mulher coerente, falarei de você. Viveu o que propagou. Morou com suas companheiras e seus companheiros nos bairros que criou. Cuidou das crianças, vivia e se alimentava com elas. Formou uma legião de jovens militantes. Dignificou a luta das mulheres. Foi altiva no parlamento e na administração, ajudou a fundar o PT e se entregou por um mundo melhor.

As ruas de Osasco hoje estarão mais tristes. As mulheres sentirão a ausência de um grito contra a opressão. O PT cerrará suas portas em respeito aos tijolos que você assentou em sua construção. A Câmara de Vereadores silenciará. Os bairros que você ajudou a construir anoitecerão mais cedo. As crianças das creches da cidade brincarão em homenagem a você e falarão do futuro. E eu, sozinho aqui no meu canto, colocarei uma dose de conhaque no copo e brindarei à mulher guerreira que você foi e que nunca mais sairá de minha memória.

Adeus, Sônia Rainho!

João Paulo Cunha

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