Para o analista de sistemas Fábio Breda não existe desafio que ele não supere. Em fevereiro, o osasquense fez a travessia do Leme ao Pontal no Rio de Janeiro, a mais arriscada e desafiadora travessia do país. Osasquense, ele sempre morou na cidade, na infância jogava bola e taco na General Bittencourt com outros amigos, além de jogar bola dentro da Escola Bittencourt e às vezes ir no Cobraseixos com o pessoal da rua. Ele estudou o primeiro grau da Fito e no segundo grau na Fundação Bradesco.
A natação entrou em sua vida por causa um problema de saúde. “Comecei a nadar devido à percepção que meus pais tiveram com minha coluna. O médico, além de todo tratamento indicou a Natação, o melhor esporte para este caso.”
As competições não demoraram muito para aparecer na vida de Fábio Breda, com 6 anos já participava de alguns festivais, com 7 anos já disputava o brasileiro da sua categoria. “Aí percebi que não poderia mais parar. Sempre levei a sério a Natação e ficou mais sério ainda quando ganhei o Paulista (não federado) em São José do Rio Preto em 1994. Em 1995 fiquei com o vice brasileiro (também não federado) disputado na piscina olímpica do Ibirapuera. A sensação é que eu poderia começar a pensar em me federar e começar a treinar em algum clube de grande expressão, como Corinthians e Pinheiros, principais clubes de Natação em São Paulo.”
Ele foi convidado para treinar em 3 clubes na época entre 1996 e 1997. As condições famíliares não permitiram que o osasquense aceitasse. “Infelizmente, meus pais não tinham condições de me levar e buscar e eu tinha que começar a trabalhar.” Breda levanta uma questão que muitos esportistas brasileiros enfrentam. “O esporte individual no Brasil não é muito bem visto. Temos tantos talentos em diversos esportes, mas as empresas patrocinadoras, os governantes só enxergam o futebol, enquanto alguns ganham milhares, outros fazem muito sacrífício para disputar suas competições.”
Já adulto e várias competições disputadas, Fabio Breda continuou a se destacar nas piscinas, conquistou o 3o. Lugar no Paulista de Master nos 200 metros. Além de competir na categoria de 41 a 45 anos nas diversas competições de águas abertas. “Aprendi que, como na vida, no trabalho, é preciso treinar, fazer seu melhor e que um dia possamos alcançar o que almejamos.”
Entre alegrias e tristeza, o osasquense guarda uma que não é das melhores. “Estava classificado para a final Paulista de 1991 ou 1992 se não me engano, que foi disputado em Birigui, no caminho passei mal e fiquei internado na Santa Casa da cidade, ou seja, estava entre os 10 melhores de São Paulo, mas não pude nadar.”
As provas mais longas foram surgindo aos poucos na vida de Fábio. “Depois de uma certa idade vamos perdendo a explosão de provas curtas, mas adquirimos muita resistência física para fazer provas mais longas e por isso essa virada de provas curtas para provas longas.”
A vida de um atleta que nada distâncias grandes não é nada fácil. “Para a prova de 36km, foram precisos 6 meses de treinos, de segunda a sábado, numa metragem que poderia ir de 4km a 7km diários. E alguns simulados de 2, 3, 4 e 5 horas parando apenas para a hidratação. Além da natação é preciso fazer musculação, pilates, osteopatia, ter um acompanhamento nutricional e psicológico.”
Mas depois de horas no mar nadando, será que bate um tédio? Segundo o osasquense Fabio Breda, o psicológico precisa estar bem trabalhado. “Bate sim um tédio,mas quando isso acontece, tento focar na chegada, tento ver a paisagem ao meu redor, lembrar de músicas que gosto e nadar cantando, fico lembrando das palavras de incentivo da família, de amigos. Lembrando de toda a dificuldade dos treinos e rezando muito também para que eu possa chegar bem.”
O desafio carioca de nadar do Leme ao Pontal, são 36 quilômetros de travessia e mais de dez horas nadando, surgiu há pouco mais de 3 anos. “A prova foi fundada em 2016. Mas o sonho veio após eu ter feito a prova de 24km, a chamada 14Bis, essa é a mais antiga, participei da 50a. edição em 2017 e minha esposa fez em 2018.” A preparação para essa prova específica foi grande. Na prova, os problemas aconteceram nos primeiros quilômetros. “Logo na 2a. hora tive uma queimadura de água viva no peito, a queimadura durou uns 10 minutos, incomodou demais, fora o receio de encontrar outras. Mas o maior problema foram as correntezas contra e o vento que batia de todos os lados, quando eu levantava a cabeça para respirar, vinham as ondulações, foi complicado.”
Mas todos os problemas durante a prova foram ultrapassados e Fabio foi recompensado ao concluir a travessia. “Chegar ao Pontal nadando foi uma das maiores e melhores sensações que já tive, ainda estou em êxtase. A adrenalina era tamanha que não conseguia chorar, só fui chorar no dia seguinte vendo os vídeos e todas as mensagens de incentivo. Fui recebido pela minha esposa, meu técnico Samir Barel que já fez parte da seleção brasileira de águas abertas e disputou o circuito mundial, o fotógrafo Daniel e a organização, no qual o criador desta, Adherbal, já atravessou o Canal da Mancha (França – Inglaterra) e já fez duas vezes o trajeto do Leme ao Pontal.”
Quem pensa que o osasquense vai parar por aí, está enganado. “Ainda não parei para pensar, mas quem sabe o Amazon Chalenge, são 30km nadando no Rio Negro”.
Superação é uma palavra que Fabio Breda sabe bem o que é. “Superação é não desistir diante das dificuldades. É acordar cedo para treinar sem reclamar. É deixar a preguiça de lado e não procrastinar.”
Ele também destaca nesta trajetória, a importância da família. “É de suma importância, sem o incentivo e apoio da família eu não poderia participar das competições. Tenho o privilégio de ter pessoas maravilhosas ao meu lado. Agradeço a Deus por ter colocado pessoas tão especiais na minha vida. Meus pais foram os primeiros incentivadores e sempre me acompanhavam nas competições. Infelizmente perdi meu pai em 1999, mas isso me deu mais forças para continuar. Minha esposa também é ultramaratonista aquática então ela sempre me apoia nessas loucuras assim como eu a apoio também. E meu filho. Vou incentivá-lo sempre.”
Para quem ficou com vontade de entrar nas piscinas e viver a vida intensamente como Fabio Breda, ele deixa alguns conselhos. “A natação é a melhor atividade física, tem inúmeros benefícios para a saúde e portanto não tem uma idade mínima para começar, portanto, sem medo d’água, sem receio, comecem devagar e aproveitem! Para quem quiser se desafiar nesse desafio do Leme ao Pontal ou em outro desafio, meu conselho é: treinem, mas treinem com foco, com objetivo, com vontade, cumpra todas as etapas dos treinos.”
O atleta fez alguns agradecimentos
“Aos meus pais que me colocaram nesse esporte que amo e não vivo sem. À minha esposa, grande incentivadora e parceira para todas as horas, principalmente nessas travessias, amo você! Ao meu filho, obrigado, é tudo por você e para você, te amo demais
Ao meu técnico Samir Barel, sem palavras, ele sabe tudo que ele representa, não só para mim mas para todos seus atletas. Aos professores e técnicos que me deram a base para eu conseguir treinar e concluir tais travessias.
Aos amigos que a natação me deu, amigos das antigas que sabem muito bem quem são até os amigos de hoje, doa treinos, do aulão e do pós aulão.
À minha equipe, meu fisioterapeuta e osteopata Jefferson Garcia e equipe e à minha nutricionista esportiva Elisabeth Moraes.
Agradecer pelas academias por onde passei, Beck Natação e Espaço Aquático. Aos amigos do trabalho, que devem estar cansados de ouvir sobre maratonas aquáticas.
E a todos, que mesmo eu não conhecendo pessoalmente, me mandaram palavras de incentivo”.