Por – Dr. Flávio Christensen Nobre (Advogado e Consultor Empresarial)
Num passado não muito distante contemplamos a maior crise moral, ética, política e institucional (quando olhamos para os 3 poderes constituídos) de todos os tempos, desde a fundação da república.
A invasão de competência, estimulada pelo desejo inescondível de poder, deixa marcas profundas nos poderes judiciário, legislativo e executivo, provocando histeria numa sociedade que convulsiona de joelhos diante de tanta heresia.
Aliado a isso, a disputa pelos holofotes transbordou dos palcos tradicionais, avançando principalmente no campo judiciário, onde não raras as vezes assistimos atônitos as declarações e posicionamento políticos dos magistrados, provocando mal-estar, curiosidade e desconfiança do cidadão de bem.
funcionários públicos de carreira desafiando-se nas urnas, renunciando seus misteres funcionais como se estivessem a conquistar o maior título de suas carreiras.
Declarações desastrosas desses homens que se apresentam como baluartes e acima do bem e do mal quando investidos de suas funções originárias, acabam por conspurcar uma parcela significativa de insipientes formadores de opinião e induzir em erro aqueles letrados apaixonados pelos discursos nem sempre verdadeiros.
Contemplamos a falência da boa política e sua ruína em detrimento da imoralidade e corrupção em seu nível mais agudo.
Dos nossos lares assistimos de camarote prisões sem precedentes em nossa história, buscas e apreensões de toda sorte, impeachment presidencial, denúncias de corrupção em todas as esferas e instâncias da administração pública, o verdadeiro caos social.
Da mesma forma os lacradores de plantão monopolizaram a verdade com posicionamento asqueroso que soterra a opinião alheia e relega a segundo plano o mais hábil e culto comentarista que pensa e se posiciona diferente, conduzindo a pauta ao linchamento moral.
Não falta sapiência para os coachings que pra tudo tem repostas e ensinamentos para uma vida próspera e sadia, por meio de boa retórica adornado por técnicas de neurolinguística apresentam no campo da hipótese solução para todas as mazelas sociais e fantasmas pessoais, vendendo a sonhada superação a preço caro.
A mídia de massa noticiou a maior operação deflagrada contra a corrupção da história brasileira e o povo atordoado assiste o nascer, crescer e o morrer na praia, estamos falando da “Operação Lava Jato”, que além de perder força e credibilidade lança ao profundo abismo o trabalho praticado pelos agentes públicos que agora são processados pelos réus inocentados pelas Instâncias Superiores, abrindo precedente desastroso para o Estado, sobretudo invertendo-se valores.
Não se tem notícias de tanta gente presa e solta ato contínuo, contrariando todas as estatísticas outrora ranqueadas pelos menos favorecidos.
Hoje as prisões ficaram mais chiques e badaladas com a recorrente presença de autoridades cujas nomenclaturas e patentes dispensam comentários, até porque a mídia de massa já provocou o verdadeiro linchamento moral contra essas figuras importantes e personagens da alta sociedade.
O desejo de poder, aliado a descrença nas instituições fez nascer uma nova onda de políticos que deixam suas casernas, cargos públicos e outros beneméritos para adentrar no terreno pantanoso político de pouca previsibilidade, não sabemos a que pretexto.
A onda crescente das mídias sociais impulsionadas pelos smartphones contaminou a sociedade desde as crianças até os mais veteranos que padecem de monofobia em razão do vício digital.
Não conseguimos ficar 5 minutos sem olhar o celular, sem dúvidas, o mal do século.
Com viés ideológico bem demarcado, uma parcela significativa da sociedade civil deixou o conforto de suas casas para protestar seus direitos e defender bandeiras tradicionais levando como escudo a bandeira e o hino nacional.
Não se tem notícias de manifestação popular parecida desde a redemocratização consolidada em nossa Carta Política de 1988.
A mídia patrocinou e potencializou a pior dicotomia social da história brasileira, lançando sobre a direita o alcunha de fundamentalista por conta de atos considerados por esta como sendo “antidemocráticos”quando os cidadãos vão às ruas com gritos de ordem adornados pelo hino nacional.
De outra banda, a mesma mídia estigmatizou a esquerda atribuindo-lhes a pecha de socialistas/comunistas invasores de terras e clientes de assistencialismo barato, coroando-os como massa de manobra e vítimas de proselitismo partidário.
Os homens da fé também não ficaram imunes aos escândalos de corrupção, abusos e outras bandalheiras aplicáveis a espécie, saíram dos seus púlpitos para aventurarem-se no vale tudo da política confundindo seus fiéis que já confessam a fé abalada.
O ativismo tomou conta de todos os setores da sociedade, inclusive trazendo a reboque nomenclaturas inauditas pelo povo, onde os grupos que defendem suas bandeiras querem convencer e converter seus opostos gerando cizânia e por consequência a opressão e conflitos sociais.
Fruto da discórdia e polaridade, atentados contra autoridades ganharam destaque e são recorrentes.
A seara fértil da desinformação catalisada pela mixórdia, ódio e fundamentalismo ultrapassou todos os limites, provocando um cenário de dúvidas, incertezas e instabilidade social.
Nunca se debateu tanto o assunto político partidário em família, bares, restaurantes e trabalho, entretanto, sem conteúdo plausível que valha a discussão, que na maioria das vezes é pautada por achismos sem sustância intelectual.
Fruto da desinformação comumente associada a falta de conhecimento e propagação de notícias falsas, o embate de cunho político tem gerado conflitos de toda natureza, desde o rompimento de amizades de longa data, inimizades consanguíneas chegando ao extremo de assassinatos.
A que ponto chegamos!
Conseguiram deformar o conceito de direita e esquerda, oposição e situação, onde as posições antagônicas formam uma barreira quase que intransponível pelos seus seguidores acometidos de uma cegueira social em seu formato mais crônico.
Confundiram oposição com ataque contra a situação e vice versa, esqueceram-se dos interesses coletivos, das agendas e pautas importantes ao desenvolvimento do Estado.
A oposição é um componente elementar à manutenção da democracia, mas não deve ser confundida como instrumento de vingança privada, tampouco para obtenção de vantagem pessoal ou de outrem.
Compactuar com essa prática seria dar azo a preservação da vaidade pessoal, fomentar o egoísmo e impulsionar o retrocesso.
Ressuscitaram o “Nós contra Eles” e a quinta série nunca foi tão festejada, um mix de criancice, irracionalidade, maldade, irresponsabilidade e falta de patriotismo, para dizer o mínimo.
Esqueceram-se de que o executivo governa para quem votou e quem não optou por este e também administra tanto para direita como para esquerda.
As provocações e ataques ganharam força, além de desencadear a maior polarização política na história brasileira.
Os atentados transcenderam as barreiras digitais e se transformaram o debate num tatame de vale tudo, impregnando os vizinhos, amigos e o núcleo familiar pelos meios tradicionais de comunicação nos mais longínquos e remotos lugares com culturas distintas, merecendo destaque os povos indígenas.
A pandemia trouxe consigo, além do desastre sanitário, outros males aos nossos jovens e crianças, pois afastados dos institutos de ensinos, sofrem com a ausência presencial dos seus professores que são substituídos às pressas pelos pais e responsáveis sem o devido preparo acadêmico.
O cenário social desarrumado, ensejou prejuízo imensurável ao aprendizado dos nossos jovens que agora enfrentam outros fantasmas como a depressão, síndrome do pânico, estresse e a ansiedade desenfreada.
A evolução do ser humano e sua idiossincrasia enseja a mudança comportamental, devendo ser constantemente estudada em conjunto com outros elementos, a exemplo das doenças do século e revolução tecnológica, para que possamos nos adaptar às intempéries sociais e ter uma melhor compreensão da vida para um futuro melhor.