Por Gaby Morais (*)
A cerimônia de posse do prefeito, vice-prefeita e vereadores marcou o início de um novo ciclo na administração municipal de Barueri. Contudo, o que deveria ser um momento de celebração democrática, marcado por agradecimentos ao povo e sinalizações claras sobre o futuro, acabou sendo ofuscado por discursos voltados mais à exaltação pessoal do prefeito que encerra seu mandato, Rubens Furlan, do que ao compromisso com a cidade e seus cidadãos.
Furlan, ao tentar justificar os problemas de saúde pública que marcaram sua gestão, perdeu a oportunidade de assumir com humildade os desafios que não conseguiu resolver. Em vez disso, os discursos pareceram focados em reforçar sua imagem, deixando de lado um agradecimento mais amplo à população que sustentou a democracia com seu voto. Mais preocupante foi o fato de que, em seu discurso, o ex-prefeito não mencionou a importância histórica da eleição da primeira mulher como vice-prefeita, nem sequer citou seu nome. Disse estar feliz com a eleição do Piteri, Damaris, Vereadores e ponto. A omissão de um marco tão significativo reflete o quanto ainda precisamos avançar na valorização do papel feminino na política.
A Omissão do Feminino e a Força da Representatividade
O prefeito eleito, Pitteri, seguiu na mesma linha. Apesar de agradecer a vereadora reeleita Cris do Maternal, sua fala também ignorou o protagonismo da vice-prefeita. Citou a vice, mas não mencionou a importância da sua eleição. Esta ausência é emblemática e levanta um questionamento: até que ponto a administração que promete ser “humanizada” realmente reconhecerá a contribuição única que o olhar feminino pode trazer à gestão pública?
A vice-prefeita, como a primeira mulher a ocupar esse cargo, terá diante de si o desafio de conquistar espaço em um ambiente que, ainda que democraticamente eleito, permanece imerso em práticas de adulação e centralização masculina. Seu posicionamento será crucial para transformar a política em algo mais próximo de sua vocação original: servir ao povo, e não alimentar egos.
Governo Humanizado: Realidade ou Retórica?
Pitteri afirmou em seu discurso que fará uma administração humanizada. Mas o que o impediu de implementar essa visão nos últimos anos, enquanto esteve no governo Furlan? As palavras soam como uma promessa repetida, e cabe ao novo ciclo do mesmo governo demonstrar com ações concretas que essa não é apenas uma estratégia retórica.
Se o governo realmente deseja ser humanizado, precisará ouvir as mulheres em seu entorno, seja a vice-prefeita, a primeira-dama, e porque não aquelas que constroem Barueri. Essa administração só será transformadora se adotar o olhar feminino como central para as decisões, dando espaço para a sensibilidade e a empatia que muitas vezes faltaram no passado.
O Papel do Temor ao Senhor
Por fim, muitos agradeceram a Deus em seus discursos. Esperamos que essa gratidão se reflita em um governo verdadeiramente guiado pelo temor ao Senhor, onde a justiça, o serviço e o respeito à dignidade humana sejam prioridades. Sem esses valores como bússola, a administração corre o risco de se perder nos mesmos erros do passado.
A posse de um novo governo é um momento de esperança. Contudo, ela também deve ser um chamado à responsabilidade. Que a vice-prefeita, Claudia Marques, tenha força para ocupar o espaço que lhe pertence e que o novo governo reconheça a importância de servir ao povo, honrando o compromisso com aqueles que confiaram seu voto. Mais do que discursos, a cidade precisa de ações que reflitam a verdadeira vocação da política: servir e transformar vidas com integridade e respeito.
*Moradora de Barueri (SP), Gaby Morais é estrategista e referência em representatividade feminina. Com mais de duas décadas de experiência em campanhas políticas nacionais e internacionais, a profissional é especialista em capacitar e qualificar mulheres para a política. Gaby é formada em Inteligência Estratégica, mestre em Marketing Político e Campanhas Eleitorais pela Universidade de Alcalá, na Espanha, e possui MBA em Gestão Pública. Também é criadora do podcast Voz da Vez, que debate o olhar mais humano para o futuro através da perspectiva feminina e da Revista Eletrônica Gabynete, que debate temas políticos.
