Meus amigos. Vai ter Copa! Nesta quinta-feira, ao meio-dia, a bola rolou no lendário estádio Luzhniki (palco para a lágrima do ursinho Misha na abertura dos Jogos Olímpicos de 1980) para Rússia e Arábia Saudita. Foi o pontapé inicial do Mundial. Embora não seja o jogo dos sonhos de uma abertura, marcou o início da grande festa do futebol. Que traz um sentimento que nós andamos perdendo por aqui.
Em 2010 estava na África do Sul para seguir a Seleção Brasileira na Copa. Chegamos a Johanesburgo duas semanas antes da abertura. A capital econômica do país levou um tempo para “captar” o espírito do maior torneio de um esporte que eles não conheciam tão bem. Sul-africanos gostam muito de rúgbi, mas o futebol doméstico é fraco. No entanto, naquele 11 de junho, o estádio Soccer City, em Soweto, viveu uma noite mágica. O país inteiro (ainda às sombras do apartheid) unido torcendo pelo seu time contra os mexicanos. Retrovisores dos carros com a bandeira do país. Ruas, hotéis, prédios comerciais, todos coloridos em vermelho, amarelo, verde, branco e preto. Parecia o Brasil nos áureos tempos.
A bola rolou e, aos 10 minutos do segundo tempo, Siphiwe Tshabalala achou um “pombão” de fora da área e abriu o placar. Assistia ao jogo na lanchonete do Randpark Golf Club, concentração da Seleção Brasileira. Todos os funcionários chorando copiosamente de emoção. A mesma que eu senti em ver um povo representado e orgulhoso de se reconhecer naquele chute, na comemoração. Isso é a Copa do Mundo.
Nós vivemos isso aqui em 2014, principalmente nas sedes fora do tal “eixo Rio-SP”. O gol de Neymar contra o mesmo México talvez não tenha provocado a mesma emoção, mas comoveu muita gente. Quatro anos mais tarde, não vemos mais as ruas tão pintadas. Não vemos as pessoas agitadas nas ruas, carros decorados. Um prédio. Uma ponte aqui ou acolá. Fruto de um país desiludido. Mas, meu amigo, minha amiga, se você não está tão empolgado assim, olhe para a Copa da Rússia com o valor que ela tem. Cada nação mostrando em seu futebol um pouco da sua arte, da sua cultura, dos seus valores. E que vença o melhor.
Vai ter Copa, gente. E vai ser muito legal.
Até a próxima sexta-feira.
O convidado especial Marcelo do Ó é jornalista; narrador das rádios Globo e CBN, RedeTV e TV Nsports