O baralho está nas mãos do mundo há séculos. Já fez parte da nobreza de tempos idos e segue nas mesas luxuosas dos cassinos – movimenta milhares de mãos o tempo todo, em competições físicas ou online. E o truco é uma das versões mais populares do carteado, com mestres do assunto apontando a Inglaterra do século XVII como fonte, seguindo de lá para França, Espanha e Itália.
Outra versão sinaliza a Noruega. Estamos falando da era viking e de um jogo bárbaro, já que aqueles guerreiros só sabiam resolver as coisas na base do sangue. Segundo essa versão, os sinais dos blefes teriam nascente nesse jogo dos brutamontes. E de que sinais o truco fala?
Trata-se de um jogo de malandragem e onde a euforia dos jogadores pode chegar à histeria – o objetivo é iludir o adversário com encenações e, assim, levar vantagem nas cartas. Quem passa por um bar pode até se assustar com gritos de homens aparentemente incorporados por um viking – berram, gesticulam desorientadamente etc. Enfim, essa é a grife popular do truco.
No Brasil, como o país é produto de exploração portuguesa, o carteado chegou com os colonizadores. Pesquisadores garantem que os bandeirantes eram azes nas cartas e que aprenderam a malandragem com jesuítas da Europa. Primeiramente, particular entre os caboclos, no século XIX o truco já seria importante diversão social. O jogo logo ganharia aquele jeitinho brasileiro e hoje tem até versão própria e data oficial – o Dia do Truco é comemorado em 10 de julho.
A Liga Estadual de Truco
Bem, mas das mesas dos bares à competição propriamente dita o truco ganha roupagem que vem fazendo a diferença em São Paulo. Três anos atrás um grupo de jogadores decidiu criar a Liga Estadual com o objetivo de resgatar o jogo limpo. A modalidade já tem a Federação Paulista, só que a entidade está no descrédito – é o que diz o advogado Mirael Rodrigues, presidente da Liga. Ele e outros então diretores da federação criaram a vertente que vem dando essa nova visibilidade: o doutor forma a diretoria com Douglas Rocha, Renato Corintiano, Felipe Silvestre, Josué Jovem e Jorge Boi.
No último torneio da Liga, sábado passado no Jardim das Flores (zona Sul de Osasco), mais de 90 trios estavam à mesa. Um número altíssimo de competidores e para um público igualmente grande. A temporada conta um torneio por mês, sendo que ao final das doze rodadas o campeão é premiado. Perguntado sobre o objetivo da Liga, o presidente diz que tem a ver com amizade, união e respeito. “O ambiente é familiar e hoje temos regras que filtram os competidores. Nada de baralho marcado, vincado ou de cartas na manga”, explica o Doutor Mirael, como é chamado o presidente.
A liga começou como intermunicipal, mas com a demanda os dirigentes decidiram torná-la estadual. Para cada etapa as 21 equipes pagam taxa de R$210,00. “Nós arrecadamos mais de 20 mil reais e distribuímos o valor em benefícios”, completa o presidente. E o diretor Douglas Rocha, um dos históricos do truco paulista, é de Pirituba e arremata: “Cada evento começa às 9h com café da manhã, depois temos almoço e tudo gratuito. Do valor arrecadado, damos premiação de R$11.088,00 além de brindes.”
“A procura é muito grande mas nós vamos filtrando os candidatos e alguns desistem ao verem que em nosso truco não há trapaças”, conclui o Doutor Mirael. A próxima etapa será no final de setembro na sede do Truco Barcelona, Carapicuíba. Mais informações estão nas redes sociais da Liga Estadual e também pelo (11) 99651-0082.
Participei de um campeonato de truco. Pela federação Paulista anos 80 as finais foram ginásio germânico bouchard na água branca em sp