Final da Copa do Mundo, Chile 1962 e o Brasil entra em campo no Estádio Nacional para decidir o título contra a Tchecoslováquia. Osasco tem quatro meses de emancipação política nesse 17 de junho e o torcedor ligado sabe que na seleção está o ponta Jair da Costa, celebridade saída da várzea osasquense; mas o torcedor também sabe que ele paga banco para um monstro chamado Garrincha.
No mais, sem Pelé que havia se contundido contra a mesma Tcheco na segunda rodada da fase de classificação, o Mané toma conta de tudo no ataque – quanto ao camisa 10, sofrera estiramento muscular e Amarildo entrou no lugar.
O ponta dobrava com Garrincha no Botafogo e a dupla apavora no Mundial. Amarildo já havia feito dois gols contra a Espanha e foi o pé que abriu a porteira do título contra a Thecoslováquia – não era sem razão o apelido Possesso: aos 15 minutos, Josef Masopust faz 1 a 0 mas o substituto de Pelé empata dois minutos depois; na etapa final e aos 24, Zito assina o vira e Vavá fecha a tampa aos 33 para Brasil 3 a 1, bicampeão mundial.
Seleção à parte e de volta como campeão, Jair da Costa rumaria para o futebol italiano onde até hoje é reverenciado. Dos campos da várzea com a camisa da Cobrasma, eis o craque feito celebridade mundial.
Ele iniciou como office boy na Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários, a Cobrasma investia legal no esporte e o futebol era o abre-alas. Mas havia agremiações fortíssimas como a hoje centenária Associação Atlética Floresta e a Sociedade Recreativa Cobraseixos; o Soma FC era um dos clubes mais respeitados e, no geral, a bola sobrava na grande várzea osasquense.
Osni e Marchetti
Não apenas Jair da Costa, nesse período de emancipação política desde o final dos anos 50, Osasco veria outros dois nomes lançados no futebol profissional – Osni Lopes e Tony Marchetti. O segundo, parceiro direto do campeão mundial na Cobrasma e onde também trabalha como office boy.
Marchetinho arrepiava como ponta e iria para a Portuguesa antes de Jair, que chegaria lá por indicação do amigo. Sim, Tony Marchetti falou com Jair da Costa que encarou peneira na Lusa e os dois dobravam nesse ataque assim como nos tempos de Cobrasma – só que Marchetinho ficaria por lá enquanto o amigo alçaria voo.
Foi na Copa do Chile que Jair da Costa teve sondagem de Helênio Herrera, técnico da seleção da Espanha e também da Internazionale de Milão. Então, logo após o Mundial e por 200 mil dólares, o ex-ponta da Cobrasma rumava para a Itália.
E o Osni Lopes? Famoso pelo 1m56 de altura, um ponta endiabrado que entortava qualquer marcador. Osni levantava poeira com a camisa da Cobrasma mas seguindo caminho meio que paralelo a Jair e Marchetti.
Dono de uma habilidade extraordinária, o baixinho da Osasco emancipada já posava nas bases do Corinthians e depois chegaria ao Santos, onde ficaria até 1971. Nesse ano, Osni mudaria para o Vitória e para se consagrar no futebol baiano.
Ele causou no Baianão de 1972, clássico contra o rival Bahia: lá vai Osni para o ataque e quem o cerca é Romero; então o baixinho chama para a dança e o zagueirão se estatela no chão diante dos dribles encapetados. Não ficou nisso, Osni senta-se sobre a pelota e faz sinal provocando os outros do Bahia – um desafio próprio de luta. Claro, não deu outra e o pau comeu, tremendo vale-tudo.
Esse baixinho de Osasco também teve convocação da seleção brasileira, isso foi em 1977 mas ele pagou azar por contusão. Após passagem pelo Flamengo (foto), voltaria para o futebol baiano e, dessa vez, para o Bahia; já em 1985, chuteiras penduradas jogando pelo baiano Leônico.
Depois do futebol, Tony Marchetti continuaria em campo como jornalista esportivo – lançou a Equipe Furacão com o amigão Antônio Júlio Baltazar e para sucesso cobrindo Jogos Olímpicos e Copas do Mundo; nesse ínterim, o baixinho Osni crescia como empresário e hoje curte tudo de bom na capital Salvador.