Chuvas em Osasco: “Eu vi tudo de perto”

Cidades

Por: Dra. Wal Torres

Tive a experiência de participar de alguns trabalhos voluntários fora da região de Osasco e confesso que quando se trata da nossa cidade é difícil equilibrar tudo isso, passa um filme em nossa cabeça que olhamos e pensamos – caramba se eu não unir forças aqui em breve quando eu passar aqui, verei tudo isso novamente.
Diante do acontecido em nossa cidade, li uma frase linda em algum lugar que não me recordo, que dizia – O MELHOR DE OSASCO, SÃO OS OSASQUENSES!!!
E isso é real, um povo que não mede esforços para ajudar o próximo e que muitas vezes tiram o pouco que tem para doar, como é lindo ver isso e acreditar que ainda existem humanos de verdade.
Diante de todo o caos, eu acabo parando e observando situações que eu penso – existem anjos disfarçados de humanos, imaginem o cenário: o tempo fecha, inicia uma chuva que parece não ter fim durante a madrugada, o local um morro enorme com galhos, pneus e terra, muita terra no pé do morro, diversas casas. Em pouco tempo tudo isso começa a descer, uma parte invade a casa de uma senhora com seu marido que é cadeirante e eles ficam presos dentro de suas próprias casas. E nesse momento, eu repito os anjos disfarçados de humanos, sem pensar duas vezes iniciam um trabalho para abertura de um caminho para chegarem até a casa desse casal, ambos estão bem, apenas assustados, suas vidas foram poupadas. Esses vizinhos não se preocuparam se o morro poderia deslizar mais, o foco era a retirada daquela família.
Estive nesse local, difícil acesso, caminhão impossível de entrar, carro chega até um determinado local e não consegue seguir viagem, para concluir o caminho apenas a pé, eu vi o morro, olhando da casa dessa senhora para cima você se sente uma formiga, imagina essa terra toda caindo e você impossibilitado de fazer qualquer coisa, mesmo assim você tira forças de onde sequer imaginava que tinha para ajudar o seu próximo, isso é o verdadeiro amor ao próximo.
Outra situação que presenciei, a cena é a seguinte: um local de difícil acesso também, entrando em algumas vielas chego até a antiga casa de um morador, é estranho olhar para a cena e pensar que ali já teve uma casa e pensar que ali as pessoas foram salvas, não é possível definir o que é o que, mas havia uma geladeira do vizinho da casa de cima que caiu, e novamente o mais lindo de tudo, o amigo desse vizinho estava preocupado em como retirar a geladeira para entregar ao dono da casa que perdeu tudo. Triste imaginar tudo isso, presenciar é pior ainda e viver isso na pele me faltariam palavras para descrever, pois não saberia expressar o que essas pessoas vivem e viveram nesses últimos dias.
Acompanhei uma parte no local que recebiam as pessoas que haviam perdido boa parte dos bens que possuíam, mas não haviam perdido a esperança que dias melhores virão. As pessoas buscavam orientação para onde iriam, algumas sequer tinham se alimentado naquele dia, conversei com uma mãe que tinha 5 crianças e não fazia ideia para qual abrigo ela seria direcionada, era possível sentir um ar de desespero sem saber o que seria do amanhã, essa senhora deixou tudo para trás, roupas, móveis, brinquedos, ela tinha apenas a roupa do corpo e seu documento e seus filhos apenas as roupas, o garotinho chamado Davi disse, tia posso pegar uma blusa (havia uma pilha de roupas doadas) e eu disse claro, pensa no rosto desse garotinho quando encontrou uma blusa para ele e ficava puxando a blusa do seu irmãozinho que queria a mesma blusa, quando finalmente tudo se resolveu essa mulher veio agradecer como se tivesse ganhado o mundo, mal ela sabia o presente que ela me dava com aquele rosto feliz diferente do que ela havia chego.
Entre os colaboradores que auxiliavam as vítimas, existia uma preocupação se a família tinha animais domésticos e o melhor que essas famílias não fossem separadas de seus animais.
Uma família que acompanhei enquanto aguardava o transporte era nítido a preocupação da criança com seus dois cachorrinhos que não largavam a corda que os prendiam de jeito nenhum e mesmo reforçando que o seus bichinhos iriam com ele, não adiantava, ele não os deixavam sozinhos.
Teria muitas histórias para descrever aqui, mas não teria tempo hábil para isso tudo, mas posso concluir que ainda existe amor ao próximo!! Um amor genuíno e sem reservas.

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