Condição autoimune provoca falhas no couro cabeludo e pode ser agravada por situações de estresse e ansiedade
A alopecia voltou a ganhar holofotes nos últimos dias com a declaração da cantora sertaneja Maiara, da dupla com Maraísa, em suas redes sociais, de que também foi diagnosticada com a doença. A condição, que afeta a artista e sua irmã gêmea e companheira de palco, causa interrupção no ciclo do crescimento dos cabelos, provocando a perda dos fios.
Entre os diversos tipos da doença, a alopecia areata é a mais frequente. De acordo com Flávia Rosalba, dermatologista do Hospital Dia Campo Limpo, unidade sob gestão do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, o risco de alguém desenvolver a doença durante a vida é de cerca de 2%, sendo a condição agravada por outras enfermidades, como depressão e ansiedade.
A seguir, a dermatologista esclarece as principais dúvidas sobre a alopecia areata:
– Quais as principais causas para a ocorrência de alopecia areata?
A alopecia areata é uma doença autoimune que acomete os folículos pilosos (estrutura composta por um fio de pelo ou cabelo e outros elementos como glândula e músculo), levando à perda de pelos não cicatricial (quando o cabelo cai, mas pode voltar a nascer, pois não há destruição do folículo piloso). Essa ausência de pelos pode ser em placas, que é a forma mais comum, na qual notamos áreas ovaladas sem pelos, podendo ser única ou múltipla.
Há também a alopecia areata total, com perda de todo ou quase todo o pelo do couro cabeludo. E a forma alopecia areata universal, na qual a perda de pelos ocorre em todo o corpo.
– Há alguma prevalência maior em homens ou mulheres?
O risco de desenvolver alopecia areata em toda a vida é de cerca de 2%, igualmente entre os sexos masculino e feminino. A doença pode se manifestar em qualquer idade, mas é mais comum em pessoas antes dos 40 anos.
– A perda de cabelo é o único sintoma?
A perda de cabelo é o principal sintoma, embora possa haver problemas também nas unhas e/ou nos olhos. A evolução da alopecia areata é imprevisível, pois algumas pessoas apresentam crescimento dos cabelos de forma espontânea mesmo sem tratamento, enquanto outras não conseguem retomar o crescimento dos fios (repilação), apesar do tratamento. Cerca de 50% dos doentes apresentam repilação espontânea nos primeiros 6 meses, e 70% têm repilação no primeiro ano da doença.
– Essa perda irá sempre se intensificar se não houver tratamento?
Em geral, quanto mais extenso o quadro, pior a resposta ao tratamento. Alguns fatores estão relacionados a um pior prognóstico, sendo eles: início na infância; duração do episódio maior que um ano; área extensa ou acometendo o contorno da cabeça (ofiásica); acometimento ungual (nas unhas); associação com atopia (lesões alérgicas na pele); associação com doenças autoimunes, principalmente endócrinas; história familiar de alopecia areata; e associação com doenças genéticas.
Atualmente, não há um tratamento definitivo para alopecia areata, assim como não há evidências de que o tratamento mude a evolução da doença a longo prazo. É comum o acontecimento de alguns episódios ao longo da vida.
– Como é feito o tratamento?
As opções terapêuticas devem ser avaliadas em conjunto entre médico e paciente. Há possibilidade de tratamentos com medicamentos de uso local, como soluções ou cremes a serem aplicados, injeção de medicamentos no couro cabeludo e medicamentos de uso oral, incluindo os imunomoduladores que atuam diretamente na inflamação.
– Qual a relação entre estresse, ansiedade e alopecia? Quadros de estresse pioram a doença?
Estudos mostram que mais da metade dos pacientes com alopecia areata apresenta algum diagnóstico psiquiátrico, sendo depressão e ansiedade os mais frequentes, mas não somente. É evidente o impacto psicológico que a perda de cabelos traz, atrapalhando a autoimagem, o relacionamento interpessoal e o relacionamento no trabalho/escola.
O mecanismo pelo qual transtornos emocionais pioram doenças ainda não está esclarecido, mas uma possível explicação seria a interferência de neuromediadores no sistema imune.
– O tratamento deve sempre envolver também um psicólogo?
Sim, o suporte emocional pode levar a melhores respostas ao tratamento da alopecia areata.