Especial é pastel

Érica Lemos

No diálogo sobre inclusão, o uso da linguagem é essencial. É por meio dela que manifestamos nossa visão sobre o universo e seus moradores, abarcando as pessoas com deficiência. Inicialmente, é importante compreender que possuir uma deficiência não equivale a ser defeituoso ou incorreto. É comum ouvirmos as pessoas falarem “fulano é deficiente”, o que pode ser interpretado como uma expressão pejorativa, algo quebrado, que não funciona direito.

Quando representa, na verdade, vivenciar a vida de forma distinta, lidando com barreiras que a grande parte dos indivíduos podem não entender, tal como o desafio de estar em ambientes ruidosos ou lotado de gente, por exemplo. Referir-se a alguém como “diferente” é uma expressão imprecisa. Diferente em relação a quê? A quem? Tal generalização não consegue capturar as particularidades nem apresentar soluções para os desafios encarados.

Do mesmo jeito, chamar alguém de “especial” é excessivamente genérico e não fornece uma descrição precisa. É como ver a deficiência de um jeito idealizado, só porque alguém tem uma condição, não significa que automaticamente vira “Especial”.

Ouço constantemente esse termo nos discursos das mães sobre seus filhos “ESPECIAIS” e quando a pergunta elas possuem outros filhos, a surpresa: _ Sim, mas esse é único que nasceu assim, especial.

Quando não me calo diante daquela ingenuidade e amadorismo, questiono se os outros filhos não são também especiais.

Costumo dizer, que especial é Pastel ou ônibus fora de linha, retornando para garagem, diante dessa visão romantizada acerca da deficiência, pois uma pessoa não se torna especial, por ter uma condição diferenciada.

Por isso, a importância de usar o termo PCD. Ele é correto, inclusivo e evita generalizações e reducionismos. Recomenda-se o uso da expressão “pessoa com deficiência” desde 2006 quando foi adotado pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU).

Na expressão “Pessoa com deficiência” a pessoa vem antes de sua limitação ou dificuldade, traz consigo contextos de lutas por direitos e respeito, desafiando estereótipos e incentivando uma sociedade mais consciente e inclusiva. Longe de serem “especiais” em um sentido diminutivo, as pessoas com deficiência são indivíduos com direitos, desejos, e necessidades específicas. Assim como o pastel é especial por seu recheio e suas características únicas e não por uma condição humana, é crucial entender que a deficiência não define o valor ou a capacidade de uma pessoa.

Pessoas podem ser especiais por sua presença, qualidades, fragilidades e características, independentemente de ter uma deficiência ou não. No sentido amplo da palavra, o ser humano é especial, simplesmente por ser humano.

O uso consciente da linguagem é um passo vital para a inclusão verdadeira. Devemos nos esforçar para compreender as experiências alheias e reconhecer as barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam diariamente. Só assim podemos construir uma sociedade que celebre a diversidade em todas as suas formas, sem reduzir indivíduos a termos genéricos ou estereótipos. Vamos avançar juntos, promovendo uma cultura de respeito, empatia e igualdade para todos.

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