Por – Gregório José
Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma mudança significativa na composição dos lares. Se antes a estrutura familiar tradicional era formada por casais e filhos, agora cresce um novo fenômeno: a presença cada vez maior de animais de estimação, enquanto o número de crianças vem diminuindo.
Dados recentes indicam que até 2030 o país terá cerca de 101 milhões de cães e gatos, um aumento de quase 26% em relação a 2019. Esse crescimento expressivo reflete não apenas o carinho pelos animais, mas também uma nova dinâmica social em que os pets acabam assumindo um papel antes ocupado pelos filhos. A individualização dos lares, o aumento da expectativa de vida e os desafios financeiros e emocionais da parentalidade têm levado muitas pessoas a optarem por companheiros de quatro patas em vez de investir na criação de uma família numerosa.
A evolução da relação entre humanos e animais de estimação também passa por um processo de humanização. Não é raro encontrar tutores que consideram seus pets como verdadeiros filhos, oferecendo-lhes uma vida cercada de cuidados especiais, alimentação balanceada e até mesmo terapias. O mercado pet, impulsionado por essa nova realidade, cresce de forma exponencial, adaptando-se às demandas de um público cada vez mais exigente.
Outro fator que contribui para esse cenário é a mudança no estilo de vida. O aumento do número de pessoas morando sozinhas, o isolamento social e a busca por lares mais independentes resultam em uma maior valorização da companhia dos animais. Diferente dos filhos, que demandam um comprometimento a longo prazo com educação, saúde e formação social, os pets oferecem um vínculo afetivo sem as mesmas responsabilidades e pressões da parentalidade.
O impacto desse movimento transcende as relações interpessoais e atinge também a economia e o futuro da sociedade. Com menos crianças nascendo e mais lares formados por adultos solteiros ou casais sem filhos, surgem desafios para o sistema previdenciário e para a manutenção da mão de obra no mercado de trabalho. Em contrapartida, o setor pet se fortalece como um dos mais promissores da atualidade, movimentando bilhões e gerando novas oportunidades de negócio.
Os próximos anos dirão se essa tendência se consolidará de forma definitiva ou se novos fatores poderão equilibrar novamente essa equação. O fato é que os pets, uma vez considerados apenas companheiros, agora assumem um papel central na forma como os brasileiros vivem e estruturam seus lares. O futuro, mais do que nunca, terá um latido ou um miado como trilha sonora.
Gregório José é Jornalista, Radialista e Filósofo