Garantir o acesso a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para uma vida ativa e saudável é um direito assegurado pela Constituição Brasileira, mas ainda um desafio em um país marcado por profundas desigualdades sociais. O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) vai além da disponibilidade de alimentos; ele abrange também o respeito às necessidades culturais, nutricionais e às preferências alimentares da população.
De acordo com a nutricionista Elaine Rosa, a SAN é essencial para promover saúde e equidade. “A segurança alimentar e nutricional não é apenas a ausência de fome. Ela significa assegurar que todos, em todos os momentos, tenham acesso a alimentos seguros, nutritivos e adequados à sua realidade cultural e social”, afirma Elaine.
O Paradoxo Alimentar no Brasil
Apesar de ser um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil enfrenta uma triste contradição: milhões de pessoas sofrem com a insegurança alimentar, que pode ser dividida em três níveis – leve, moderada e grave. A forma mais severa está associada à fome, enquanto os níveis mais leves representam dificuldades no acesso regular a alimentos adequados.
Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), fatores como desemprego, baixa renda e desigualdade social têm agravado o problema. “Vivemos um paradoxo: ao mesmo tempo em que enfrentamos desnutrição em regiões vulneráveis, também registramos um aumento alarmante de obesidade e doenças relacionadas ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados”, alerta Elaine.
O consumo elevado de produtos ricos em açúcar, sódio e gorduras tem contribuído para o crescimento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade. Para Elaine, a conscientização da população sobre a importância de escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis é um dos pilares para reverter esse cenário.
Desafios e Caminhos para a SAN
A implementação de políticas públicas voltadas à segurança alimentar tem sido uma prioridade. Programas como o Bolsa Família, os bancos de alimentos e os incentivos à agricultura familiar são exemplos de iniciativas que buscam reduzir a fome e fortalecer a economia local. Além disso, a sociedade civil desempenha um papel fundamental. Projetos de ONGs, hortas comunitárias e ações de conscientização têm mostrado que a colaboração é essencial para enfrentar os desafios da insegurança alimentar.
“O combate à insegurança alimentar exige uma abordagem integrada, que envolva governos, organizações e a sociedade como um todo. Não basta combater a fome; precisamos também promover a alimentação adequada e saudável para todos os brasileiros”, destaca Elaine Rosa.
Educação Alimentar: A Base para um Futuro Melhor
A educação alimentar e nutricional tem um papel transformador. Ela não apenas orienta a população sobre o consumo consciente, como também incentiva a valorização de alimentos naturais e locais. “Escolhas alimentares saudáveis são o primeiro passo para uma vida mais equilibrada e para a construção de um país mais justo”, conclui a nutricionista.
Em tempos de desafios econômicos e ambientais, a segurança alimentar e nutricional deve ser vista como uma prioridade nacional, não apenas pela garantia da saúde, mas como um ato de dignidade e respeito ao direito básico de cada cidadão..
*Dra Simone Neri, médica e gestora em Saúde pela FGV para a coluna Saúde Para Todos