Tocando escola de vôlei no Continental: Tandara tem a ver com as atletas mães de hoje

Capa Esportes Márcio Silvio

Até Tandara grávida, o esporte feminino era regido por lei patriarcal, cenário que começou a mudar em 2015. Hoje a situação é absolutamente serena para a atleta que planeja gravidez, pois sabe que não há nenhum risco profissional, que há amparo trabalhista.
Apedrejada por muitos quando do doping olímpico em Tóquio, a oposto está fora do vôlei desde então, cumprindo de forma samaritana os quatro anos de banimento.
Se ela tem um histórico supercampeão seja defendendo clubes ou seleção brasileira, não importa. O que vale é o doping e, então, cabe ser apedrejada e jogada ao esquecimento.
Mais ainda por ela ter opiniões fortes em defesa da mulher no vôlei feminino, sendo sumariamente enquadrada como homofóbica extremista. No entanto, Tandara não se curva ante as pedradas, não se intimida e não recua.
Está cumprindo a pena corajosamente e com o sonho inabalável de retornar ao vôlei. E mais: também está alimentando sonho de vários alunos que frequentam a escola Tandara Caixeta no Parque Continental, entre Osasco e São Paulo. Sim, a gigante do vôlei brasileiro vem trabalhando categorias de base e logo estará com revelações pintando por aí.

DIA DAS MÃES NO ESPORTE
Por que Tandara está sendo relacionada aqui a esse 14 de maio? Nada a ver com qualquer outra situação que não a esportiva – ela foi a primeira contra o sistema injusto que pesava sobre a atleta de alto rendimento.
Então, se agora alguém pede licença trabalhista para engravidar, vai feliz para o planejamento contando com todo suporte do clube porque a Justiça anda ao lado.
Em janeiro de 2015 ela jogava em Minas Gerais quando soube que estava grávida; manteve-se em quadra e defendeu o Praia Clube de Uberlândia até o final da Superliga em abril. No mês seguinte, hora de renovação e Tandara atualiza os fatos – diante da gravidez anunciada, a diretoria decide cortar o direito de imagem e avisa que ela passaria a receber cinco por cento do salário; ou seja, facão de 95%.
Mais que não aceitar e por estar acostumada a enfrentar todos desafios em quadra, a oposto foi soltar o braço na Justiça – longo processo que teria tribunal decisivo em 18 de junho de 2020. Nesse ínterim, a atleta deixara o Praia para defender o Minas Tênis, depois Osasco e o chinês Guandong; voltaria ao Brasil via Sesc Rio e, por fim, outro retorno ao clube osasquense.
O que aconteceu é que Tandara venceu o tie-break na Justiça. Cinco anos após o nascimento de Maria Clara, a lei trabalhista garantia-lhe retorno do salário integral durante o período de gravidez como atleta do Praia Clube – decisão incontestável do Tribunal Superior do Trabalho.
Decisão incontestável e inédita. Até Tandara, a atleta que engravidasse submetia-se ao desamparo da lei – a maioria era mandada embora.
“Desde o começo da ação, deixei claro que não foi por raiva ou por dinheiro mas pelo direito”, dizia Tandara ao ser parabenizada pela vitória. “A atleta também pode ser mãe, não tem que abdicar de um para ter o outro.”
Quanto a Maria Clara, nasceu em 13 de setembro e em outubro a mamãe Tandara já estava em quadra retomando os treinos. Com a Superliga 2015 em andamento, a torcida de Belo Horizonte aplaudia a oposto estreando pelo Minas em 5 de dezembro.

CÂMARA DOS DEPUTADOS
No início deste mês a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei quanto ao Bolsa Atleta, ação que abrange gestantes e mães de recém-nascidos. À parte o vínculo trabalhista das atletas profissionais, a partir de agora o benefício federal agrega recebimento regular do benefício durante a gestação acrescidos de até seis meses. Claro, dentro do prazo contratual de um ano que é o período legal do Bolsa Atleta.
Sim, esse avanço político segue na mesma estrada que tem Tandara em 2015, quando iniciava luta por justiça contra os ferrões do patriarcalismo empresarial. Por fim, da Câmara dos Deputados o projeto seguiu para o Senado Federal e foi aprovado na sessão de terça-feira passada.
Pode parecer estranho o Correio Paulista ligar Tandara a esse 14 de maio, Dia das Mães. Mas o fato é que, quando falamos de atletas mães ou em planejamento, então ela tem mesmo a ver. A luta da oposto pelo direito à gravidez resulta que as mães atletas de hoje tenham mesmo um dia feliz e profissionalmente seguro.

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