Um Carnaval na casa do Menino Maluquinho e com a Turma do Pererê

Alexandre Frassini Capa Colunistas

Eu tenho experiências profissionais com alguns famosos desse nosso Brasil. Guardo todas com carinho. Não é qualquer um que grava 21 programas com Felipe Bronze, ou que prepara o camarim do Almir Sater e do Teatro Magico ou que tem a banda convidada para abrir o Show do Chico Cesar, por exemplo. Somente algumas das experiências que tenho nesse meio culinária musical que faço parte, que vai de ser culinarista do comercial dos liquidificadores Oster, se apresentar com o AllSapão e servir caldo de Mocotó para Rolando Boldrin na TV Cultura, tocar no mesmo evento de Zé Geraldo e Planta e Raiz e trocar ideias sobre o cotidiano e protestar com o inesquecível amigo Ricardo Boechat. Enfim, alguns momentos que não da para esquecer. Mas nenhuma dessas experiências me aproximou mais de um artista do que a experiência que tive no Carnaval de 2023, que vou resumir nas linhas abaixo para você meu querido leitor.

Sempre que possível, viajo para cozinhar nas excursões da empresa de turismo do meu irmão Douglas, o Simbora Povo. Já fui com meus tachos para Ilha do Mel no Paraná, Olímpia, Paraty, Saco de Mamanguá e Angra dos Reis no Rio de Janeiro e por ai vai. Ano passado fomos passar o Carnaval na Ilha Grande também no Rio com o pessoal do Simbora. Quem já foi para lá sabe que é um dos lugares mais lindos desse Brasil. Só que tinha uma cerejinha nesse bolo carnavalesco. Ficamos hospedados na casa do Cartunista, Escritor e Gênio, Ziraldo. Infelizmente ele não estava, pois ainda debilitado em virtude do AVC que sofreu, se tratava na capital carioca. Mas não existia um cantinho daquela casa que não representasse ele.

Eu fiquei completamente encantado com tudo que via. Obras inéditas, históricas, conhecidas e anônimas. Tinha de tudo ali. Todas as manhãs tomava meu café folheando seus livros, que espalhados num Balaio, me alimentava de desenhos antigos e sustentava a sua coragem de protestar contra a ditadura de tempos sombrios, simplesmente com o poder de uma ponta de lápis e a estratégia de luta de uma cabeça criativa.

Na estante no canto da sala, um espaço especial dedicado a um dos seus mais famosos personagens. Livros, objetos e um bonequinho simpático, sorridente e de braços abertos com uma caçarola na cabeça que chamou a atenção da minha Menina Maluquinha de 7 anos que ainda não conhecia o personagem. Ela adorou e se divertiu com a história.

Cada cômodo da casa com quadros especiais dedicado a familiares e amigos sempre com mensagem de muito carinho e afago, característica que sua imagem sempre transmitiu.

Nas noites, ouvindo musicas boas, deitado na rede ao lado da piscina e com a vista de uma densa Mata Atlântica exuberante que circunda a casa, via uma grande mesa de madeira maciça com bancos grandes e ficava imaginando quanta gente importante já tinha sentado ali, uma vez que a casa era um retiro do artista naqueles tempos de censura e repressão e como contava uma de suas crônicas pregada na parede, recebia frequentemente amigos e políticos para reuniões e desafios.

Foi um Carnaval delicioso, e pude cozinhar e desfrutar com a família e amigos, um pouco daquele universo raro, cheio de história, mensagens de liberdade e alto astral. A sensação que sentia é que o Mestre, mesmo não estando ali, estava nos abraçando.


Um gênio imortal que descansou nesse final de semana, mas estará sempre conosco.

Obrigado pela vida Gênio!!!
Ziraldo presente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *