O Carnaval vem ai e com ele as memórias, lembranças e muitas saudades. Não há um brasileiro que não tem uma lembrança dos antigos carnavais. bailes de salão, marchinhas, desfiles, bagunça, viagens e para aqueles que não curtem, o descanso.
Pouca gente sabe, e algumas pessoas que sabem fingem ignorar, mas Osasco tem como moradora uma personagem importantíssima para o Carnaval Paulista.
O ano era 1991, época que os desfiles do Carnaval de São Paulo iam entrar de vez para o circuito do carnaval nacional. As escolas iam deixar de desfilar na Avenida Tiradentes e migrar para o palco principal do samba paulistano, o Sambódromo do Anhembi.
Nesse ano, Eliana de Lima, puxadora de samba oficial da Unidos do Peruche, grávida de 8 meses, tinha certeza de que ia conseguir atravessar a avenida cantando o samba da escola. Porém, as vésperas do desfile, sua filha nasceu. Foi ai que entrou em cena a moradora do Conjunto dos Metalúrgicos, uma das fundadoras e puxadora de samba a 16 anos na época, da tradicional escola de samba Império Lapeano, Bernardete.
Naquela manhã do primeiro dia de desfile, tomando café e ouvindo a radio 105fm, Bernardete levou um grande susto quando ouviu a noticia de que Eliana de Lima tinha ganhado a bebê. Na rádio já se perguntava, e agora quem vai cantar o samba? Mal acabara de tomar seu café, um carrão estaciona na sua porta. Era o presidente da Peruche, Valtinho, que oficializa que Bernardete será a puxadora oficial da escola naquela noite. Bernardete tinha sido convidada a 3 meses atrás para participar dos ensaios da Peruche devido a agenda de shows de Eliana. E assim surgiu o convite. E seria histórico! Bernardete foi a primeira mulher a cantar um samba enredo no Sambódromo de São Paulo.
As mulheres negras sempre fizeram parte importante do carnaval paulista. Nas escolas de samba de São Paulo, desde o começo do século 20, tivemos mulheres fortes, como Deolinda Madre, mais conhecida como Madrinha Eunice, fundadora da escola de samba mais antiga ainda em atividade da cidade, a Lavapés, fundada em 1937, por exemplo.
E Bernardete ganha um valor histórico imensurável. É herdeira da tradição paulistana do samba e sua influência é aclamada por gerações de sambistas. A cantora fez da quadra da escola a sua verdadeira casa e dedicou ao samba sua vida, tornando-se uma das principais referências femininas do gênero.
Porém toda essa reverência acaba quando rompe a divisa com Osasco, onde até hoje mora. Aqui ela é esquecida, desvalorizada e tristemente confidencia ao amigo, que Osasco não passa de seu dormitório. Ano passado se emocionou quando foi convidada pela KGB Produções para uma apresentação na Arena Frangão em homenagem ao Outubro Rosa e no final do ano o Cultura na Vila também homenageou a sua história.
É triste ver uma cidade do tamanho de Osasco, trazendo artistas famosos de fora, e consagrando nesses shows sempre a mesma banda, desvalorizando seus outros artistas e desprezando a sua história. Bernardete não conseguiu nem fazer o credenciamento de artista da cidade. Como se precisasse, né?
Mas Bernardete é mulher negra, guerreira e batalhadora. Aquela que venceu dois AVCs em 2022, recuperou a voz potente e nesse carnaval vai desfilar e ser homenageada por varias escolas, blocos e cordões em São Paulo. E depois volta para sua escura cidade dormitório, quase um tumulo da cultura, Osasco.
É triste ver uma cidade do tamanho de Osasco, trazendo artistas famosos de fora, e consagrando nesses shows sempre a mesma banda, desvalorizando seus outros artistas e desprezando a sua história. Bernardete não conseguiu nem fazer o credenciamento de artista da cidade. Como se precisasse, né?
Mas Bernardete é mulher negra, guerreira e batalhadora. Aquela que venceu dois AVCs em 2022, recuperou a voz potente e nesse carnaval vai desfilar e ser homenageada por varias escolas, blocos e cordões em São Paulo. E depois volta para sua escura cidade dormitório, quase um tumulo da cultura, Osasco.
Bom carnaval minha amiga, Dona Bernardete, a Tulipa Negra do Samba, Bom Carnaval!