Por – Gregório José (*)
O título para este artigo poderia ser variado, “Democracia em risco com candidaturas únicas”; “Poder Executivo ou Monarquia escancarada?”; “O monopólio no poder”. A cada quatro anos, a democracia brasileira passa por um teste de resistência que deveria ser o espetáculo da participação cidadã. Mas, em 2024, o que assistimos é um triste desfile de desinteresse, manipulação e a velha política dos caciques locais.
A queda de 20% no número de candidaturas para prefeito desde 2020 não é apenas um dado frio; é um termômetro do quanto a política se afastou da população. Menor número de candidatos significa menor diversidade de ideias, menos opções para o eleitor e, no fundo, menos democracia. Afinal, como esperar que uma eleição reflita a vontade popular se, em 214 municípios, temos apenas um único nome nas urnas? Um único voto basta para eleger o “rei” da cidade. Um voto! Parece piada, mas é a realidade em pleno século XXI.
Essa escassez de candidatos não é por falta de pessoas interessadas em fazer a diferença; é reflexo de um sistema que desanima qualquer um com um mínimo de dignidade e decência. Prefeitos que tentam reeleição ou empresários que veem na prefeitura uma extensão de seus negócios são os perfis que dominam as candidaturas únicas. Nada de novo. Nada de inspirador. Apenas o velho jogo do poder pelo poder.
E os partidos? Ah, os partidos! Os maiores campeões das candidaturas únicas são justamente aqueles que há décadas dominam a política nacional com seus tentáculos em cada esquina. MDB, PSD, PP, União. São os mesmos de sempre, concentrando mais de 60% das candidaturas únicas. É o velho centro, que de tão centralizado, virou um buraco negro onde desaparecem as novas ideias e as verdadeiras representações populares.
Nas pequenas cidades, onde a média populacional é de meros 6,7 mil habitantes, o cenário é ainda mais desolador. Ali, a política local não passa de uma monarquia disfarçada, onde o prefeito que já está no poder simplesmente se recandidata e ganha por falta de adversários. Nessas cidades, ser prefeito é um legado, uma herança, não uma escolha popular.
O que dizer do futuro da política brasileira? Se continuarmos nesse caminho, caminhamos para uma democracia de fachada, onde o povo assiste de longe enquanto os mesmos de sempre jogam o jogo do poder, sem se preocupar com as consequências para quem está do lado de fora do palácio.
Chegamos a um ponto em que os problemas são tantos e tão complexos que a solução parece inalcançável. Mas a apatia, o desinteresse e a comodidade de manter tudo como está só nos levam a um destino: o abismo. E quando chegarmos lá, talvez seja tarde demais para voltar atrás.
(*) Gregório José: Jornalista/Radialista/Filósofo – Pós Graduado em Gestão Escolar – Pós Graduado em Ciências Políticas – Pós Graduado em Mediação e Conciliação – MBA em Gestão Pública