A imposição do óbvio

Colunistas Oscar Buturi

Há iniciativas que deveriam, no mínimo, promover uma reflexão imediata e espontânea de cada cidadão. É o caso de um Projeto de Lei que tramita na Câmara Municipal de São Paulo. De autoria do vereador Ricardo Teixeira, o PL 149/2018 propõe que todos os assentos do sistema de transporte público da capital sejam preferenciais. Segundo a propositura, o uso deve ser preferencial para passageiros acima de 60 anos, com deficiência ou mobilidade reduzida, mulheres grávidas ou acompanhadas de crianças de colo. O curioso está na justificativa; segundo ela, a iniciativa é necessária porque os demais usuários não costumam ceder os assentos comuns, sob o argumento de que já existem os preferenciais. Ainda de acordo com a proposta, a situação atual aumenta o risco de acidentes envolvendo usuários que teriam direito a usar os reservados, mas permanecem em pé quando estes já estão ocupados. Ora, temos aqui uma questão social estrutural, ligada intimamente à nossa cultura e educação. Se não cedo meu lugar a um idoso, gestante, passageiro com criança de colo ou problemas de mobilidade, devo-me questionar acerca do modelo de mundo que desejo viver. É preciso saber que uma sociedade menos injusta, que tanto pregamos e cobramos de políticos e autoridades, também gerará prejuízos e desconfortos para nós mesmos. Há um preço a ser pago. É fato que muitos usuários, por vezes, estão estafados após longa jornada de trabalho, que inclui uma verdadeira “via-crúcis” no transporte público. Tal condição, talvez, possa explicar a negativa de alguns em ceder seus assentos a terceiros. Sabemos, entretanto, que nem todos estão o tempo todo nessa condição. Dar prioridade às pessoas com algum nível de fragilidade, seja ela permanente ou temporária, é demonstração de respeito, gentileza e solidariedade. O Projeto que tramita na Câmara de São Paulo, se transformado em lei, será a imposição do óbvio, daquilo que não seria necessário, caso fôssemos uma sociedade avançada nas relações sociais.

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