Tudo aconteceu muito rápido. Primeiro o pé direito com inchaço, depois uma dor preocupante no tornozelo. Era abril de 2019 e no mês seguinte Ana Paula ouviria do osteosarcoma, um tumor maligno alojado no osso; seis meses depois ela estava internada e em outubro teve parte da perna amputada, um pouco abaixo do joelho.
Aos 44 anos, viúva e com o filho Pedro Henrique (18 anos), Ana Paula mora com a mãe e foi nesse convívio que provou das cinzas ao renascimento. “Se não amputarmos você vai morrer”, havia sentenciado o médico. Daquele maio dramático até essa reportagem, eis a moça com total mobilidade e independência, que sai para correr e que dança muito.
Profissional de educação física, antes de o câncer surgir no caminho ela rascunhava projeto para crianças em condomínios; agora que venceu o mal e vive essa nova realidade como amputada, trabalha outro projeto – Ana Paula quer celebrar a vitória realizando uma corrida só com campeões da vida, pessoas que superam traumas dos mais diversos e que hoje são testemunhas de coragem e superação.
Voltando a maio do ano passado e quando ouvia que o câncer poderia se espalhar e ser letal, Ana Paula lembra que recebeu apoio total dos amigos e com a família sendo aquele aconchego divino. “Eu dizia comigo mesma, vai dar tudo certo”. No entanto, também se lembra dos momentos de suplícios, quando toda motivação e força espiritual pareciam desvanecer. “Sim, baixou aquele estado de impotência e eu me senti perdida, chorava direto. Mas logo me vi novamente no hospital e sendo muito bem cuidada, isso me fez ter novo ânimo e vontade de viver.”
A internação foi em setembro, no mês seguinte ela passava pelo procedimento e já em novembro se adaptava à prótese. “Tive ajuda dos amigos e fizemos vaquinha. Quando tive alta, uma amiga me disse que eu celebraria o fim de ano em pé. E foi assim mesmo porque em novembro compramos a prótese. Conheci o Paulo Almeida da clínica Pé Ativo, ele também é amputado e me ajudou no preço.”
Se em maio ela ouvia do câncer, em novembro ouvia que estava absolutamente curada. “Vai viver, me disse o médico.” Certo, Ana Paula vem cumprindo essa receita dia a dia e quer estender essa alegria toda num evento esportivo em Osasco. “Hoje tenho contato com muitos amputados e pessoas ligadas ao esporte. Então, depois da pandemia vou organizar uma corrida e com participação de atletas paralímpicos.”
Para ter boa performance, Ana Paula está trabalhando por outra prótese, aquela que tem um tipo de gancho na base. Ela mora no Jardim Umuarama, zona Sul de Osasco, cumpre uma dieta muito bem balanceada, pratica yoga e sai um pouco para correr – mas tomando todo cuidado nessa quarentena. É uma moça sorridente, alto astral e que usa essa história para motivar pessoas. Ana Paula valoriza cada passo dado.