As Armadilhas Continuam nas Prateleiras

Alexandre Frassini Colunistas Destaque
Por – Alexandre Frassini

O tema é difícil, mas precisa ser debatido, analisado e prevenido.
E sejamos sinceros: todo mundo sabe que a prática de falsificar bebidas vem de longa data. Comprar bebida falsificada, e até outros produtos, movimenta desde o comércio de países vizinhos até o de ruas conhecidas no centro de São Paulo. Todo mundo sabe.

O que ninguém imaginava era que essa falsificação escondia uma fórmula mortal.
Depois de tantas mortes e famílias destruídas, o poder público finalmente parece acordar: o governo e as autoridades agora investigam, dão entrevistas, anunciam operações e mostram serviço.

Mas agora??? Pois é…
Em agosto de 2022, publiquei aqui nesta coluna uma matéria intitulada “As Armadilhas Vendidas nas Prateleiras dos Supermercados”.
Na época, eu já alertava sobre produtos modificados, alterados e de baixa qualidade que chegavam aos supermercados e eram vendidos livremente, enganando o consumidor, com o aval do governo e dos órgãos fiscalizadores.

Lá, eu citava exemplos que hoje soam ainda mais preocupantes:
Leite que é na realidade é soro de leite.
Creme de leite que virou creme de soro de leite.
Doce de leite feito com soro de leite.
Leite condensado que é mistura láctea.
Café que não é café.
Requeijão que não é requeijão.
E azeite que não é azeite.
E por ai vai.

Você sabe, querido leitor que hoje uma problema silencioso vem acontecendo com relação a alimentação? Transtornos alimentares e mentais entre crianças estão cada vez mais presentes. Uma das suspeitas são corantes, aromatizantes e conservantes.
Uma criança que precisa dos beneficios de um leite e toma soro de leite, com certeza não esta se beneficiando de nada. Correto??

E sabe onde todos esses produtos estão expostos no comércio?
Nas armadilhas das prateleiras dos supermercados, bem ao lado dos produtos originais, induzindo o consumidor ao erro.

E eu pergunto, querido leitor: não deveríamos ter um espaço separado para esses produtos modificados, com rótulos e informações mais claros, alertando o consumidor?
Se já fizeram isso com os produtos diet e light, por que não fazer o mesmo com os “tipo”, as “misturas lácteas” e os “compostos alimentares” que disfarçam o que realmente são?

O caso das linguiças “Tipo Calabresa” e “Tipo Portuguesa” segue a mesma lógica da adulteração da receita original: rótulos que escondem ingredientes e confundem o consumidor.
A Calabresa original, feita apenas com carne suína curada e pimenta calabresa ou Portuguesa, que deveria ser apenas carne suína e alho, foram modificadas e são vendidas como “tipo” Calabresa e “tipo” Portuguesa. Leia os ingredientes na embalagem e você vai se surpreender. Sabe o que tem na de uma grande e famosa marca?

“Carne suina, carne bovina, carne mecanicamente separada de aves, toucinho, proteina texturizada de soja, sal, leite em pó, açucares, pimentas calabresa e preta e extrato de arroz.”

Será que o consumidor que tem alergia a frango ou a leite, por exemplo, imagina que está consumindo isso dentro de uma linguiça tradicionalmente suína? Claro que não.

Não se trata de desmerecer as marcas, mas de exigir transparência e respeito à tradição alimentar. Se o produto não é o original, que se dê outro nome — e que o consumidor seja devidamente informado.

A adulteração, seja na comida ou na bebida, é o retrato de um mesmo problema: a falta de fiscalização e a cultura do “deixa pra depois”.
E o preço dessa omissão, agora, é cobrado em vidas.

Três anos depois, eu continuo fazendo o mesmo alerta.
E vou repetir sempre nas minhas Oficinas Gastronômicas: é preciso ler rótulos, desconfiar de preços muito baixos e questionar o que se consome.
Ao governo, fica o recado: A fiscalização é primordial e antecipar-se salva vidas. Fiscalizar depois é assinar o compromisso da incompetência.

Até a próxima, pessoal!

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