Quando Claudia Loise Rosa recebeu a picada da seringa, não sentiu dor. “Senti muita emoção”, disse. O precioso conteúdo de 0,5 ml da primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca injetada no seu braço no início de junho serviu como alívio no corpo e pesar na memória.
Meses antes, Claudia tinha perdido quatro parentes para a Covid-19 no estado da sua longínqua terra natal: o Rio Grande do Norte. Ela recebeu a segunda dose no início de setembro e aguarda o mês de fevereiro do próximo ano para a terceira dose.
Das cidades de João Câmara e Barcelona do estado potiguar, onde morreram seus quatro familiares, até Barueri, onde ela reside e foi vacinada, são 2.969 e 2.809 quilômetros, respectivamente. Distâncias que ela conhece bem, assim como conhece um pouco os longos trajetos pelos quais as diferentes vacinas percorrem até chegar aos braços das pessoas. “Gosto de acompanhar o noticiário e sei que as vacinas vêm de muitos países diferentes.”
Mas Claudia não fazia ideia dos caminhos que as vacinas percorrem e dos tratamentos a que precisam ser submetidas assim que chegam no município. O cumprimento de prazos e a manutenção da qualidade passam por uma operação que se assemelha a uma estratégia de guerra. Guerra contra um inimigo invisível e letal, o novo coronavírus, que vem de mutação em mutação tornando o trabalho de imunização mais complexo.
O percurso das vacinas
Quem explica em um primeiro momento os percursos e a complexa rede de planejamento, organização, registro de dados, acondicionamento, segurança e distribuição dos imunizantes é a coordenadora da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Barueri, Rosana Perri Andrade Ambrogini.
A vinda das vacinas de diferentes países é o “primeiro gargalo” na distribuição. “Elas chegam ao Brasil e o Ministério da Saúde faz a distribuição para os estados e estes para os municípios usando sempre o critério populacional”, informa.
As doses são enviadas tendo como base o número de habitantes dos municípios. Para tanto, o Ministério da Saúde e os governos dos estados usam o último Censo, que é ainda de 2010, para identificar a quantidade de moradores. Ocorre que a população de Barueri cresceu vertiginosamente nos últimos 11 anos, o que obriga a Secretaria de Saúde a fazer reiterados pedidos de doses extras ao governo do estado. E este é o “segundo gargalo”, explica Rosana.
Quando as vacinas chegam a Barueri são acondicionadas primeiramente em uma grande câmara de conservação que controla a temperatura e mantém rigorosamente as propriedades dos imunizantes. Depois disso, a distribuição se dá a partir das sete horas da manhã, quando equipes da Saúde, cada qual composta por motorista, técnico de enfermagem e escolta de segurança feita pela Guarda Municipal, levam as doses, também acondicionadas em caixas portáteis de conservação, para 13 Unidades Básicas de Saúde e três polos de vacinação especialmente montados na pandemia.
A temperatura das vacinas, que tem de estar entre dois e oito graus celsius, é monitorada o tempo todo nas caixas térmicas usadas no transporte e em cada câmara de conservação presente ainda nas UBSs e nos polos. Também são conferidas a validade e o lote de cada leva de vacinas que chegam. Tudo devidamente registrado no SIS (Sistema de Informação da Saúde), cujas informações ficam disponíveis para os governos Federal, Estadual e Municipal.
A alusão à guerra não é por acaso. Para movimentar toda essa máquina de distribuição e conservação a Administração Municipal tem de dispor de um batalhão. Cerca de 90 funcionários administrativos; 77 Enfermeiros; 214 técnicos de Enfermagem e seis motoristas. Soma-se ainda os funcionários das Secretarias de Segurança e Mobilidade Urbana, de Educação, de Esportes e da Fieb (Fundação Instituto de Educação de Barueri).
Diante de tanta mobilização, Barueri conseguiu chegar a 101,47% da população acima dos 12 anos de idade vacinada com a primeira dose. Hoje são mais de 464 mil doses aplicadas.
Para chegar a esse resultado, o grande desafio enfrentado por Barueri, pelo Brasil e pelos demais países do mundo é procurar administrar com absoluta eficiência a quantidade de doses das vacinas que chegam paulatinamente ao município. E a razão disso é simples: a produção mundial não atende de uma vez a necessidade de imunizar toda a população.
O mais novo desafio, contudo, é com relação à nova variante Ômicron, identificada inicialmente na África do Sul, que tem alto potencial de contaminação com casos já registrados na Europa e preliminarmente até no Brasil. A Ômicron ainda é um mistério para os cientistas. As farmacêuticas Pfizer, Janssen, Moderna e AstraZeneca anunciaram que estão pesquisando formas de adaptar seus imunizantes contra a Covid-19 e entender a eficácia contra a nova cepa.