O produtor de eventos Fernando Lancelot foi vítima de um caso de injúria racial enquanto trabalhava em um hotel localizado em Alphaville, bairro de alto padrão na Grande São Paulo. O episódio ocorreu quando Fernando, que usava o cabelo solto na época, foi ofendido verbalmente por uma funcionária do local.
“Corta esse cabelo, tá ridículo, tá parecendo pelo de cachorro”, teria dito a responsável, segundo relato do produtor. Fernando conta que o comentário fez parte de uma série de situações discriminatórias vividas por ele durante os dez meses em que trabalhou na unidade.
Discriminação recorrente: relatos e testemunhas confirmam abuso
De acordo com Fernando, outros funcionários com cabelos cacheados também eram obrigados a prender os fios, enquanto os de cabelo liso não sofriam a mesma exigência. Uma testemunha, que preferiu não se identificar, reforçou o relato e apontou outro episódio grave: Fernando era o único impedido de usar o banheiro da área de eventos.
A mesma testemunha relatou:
“Me chamaram para conversar e disseram que não era nada com o serviço dele. Os clientes sempre elogiavam. O problema era o cabelo.”
Gravação confirma declarações da funcionária
Após ser demitido, Fernando gravou uma conversa com a responsável pelo hotel, onde ela confirma a exigência sobre o cabelo preso:
“Que parecia pelo de cachorro, eu não falaria… Que tá ridículo, eu devo ter falado isso pra ele sim.”
O caso foi registrado como injúria racial na delegacia de Barueri, e uma ação trabalhista foi movida pelo advogado Renato Francisco Sanches, pedindo a responsabilização da empresa e da autora das ofensas.
O que diz a OAB-SP e os dados da Justiça sobre racismo no Brasil
Segundo Rosana Rufino, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, a prática é considerada discriminatória:
“A exigência de corte ou de prender o cabelo sem justificativa técnica é uma conduta abusiva.”
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que mais de 2.000 processos sobre racismo foram abertos apenas nos três primeiros meses deste ano no Brasil, evidenciando que casos como o de Fernando fazem parte de uma realidade estrutural.
Posicionamento da empresa
A equipe de reportagem tentou contato com a responsável pelo hotel, que se recusou a dar entrevista. Em nota, o estabelecimento informou que “repudia qualquer forma de discriminação” e “valoriza a diversidade étnica”.
A audiência do processo ainda não foi agendada.
Com informações do SBT News