Mães que ferem – Parte 2

Colunistas Talita Andrade

Há pouco mais de um ano, escrevi um texto sobre Mães Narcisistas. Só pra atualizar quem não viu o primeiro texto (https://correiopaulista.com/?s=maes+que+ferem) … É um comportamento abusivo de mães com distúrbios de personalidade, cujas atitudes depreciam a moral e autoestima do próprio (a) filho (a).
Como esse texto repercutiu muito, principalmente nessa longa pandemia que estamos vivendo, muitas pessoas me procuram para conversar mais sobre o tema. Então decidi que precisava abordar novos ângulos desse assunto delicado que vem chamando atenção.

Na minha visão, maternidade é doação integral de uma mãe a um filho. Em nossa mãe queremos encontrar apoio, carinho, força e coragem. Mas há um grupo de pessoas, me incluo nesse meio, possuem um vazio materno, porque possuem feridas maternas.

Quando falamos de psicopatologias, precisamos ter em mente que os diagnósticos não são fáceis de aceitar, pois trata-se de uma interpretação de profissionais de saúde, baseado naquilo que está vendo e queixas de terceiros principalmente. Pessoas com distúrbios de personalidade atuam na sociedade sem causar nenhum problema; seus sintomas são controlados em sua rotina diária e no convívio em sociedade. No entanto, dentro de casa, esses distúrbios são bastante tóxicos para aqueles que são íntimos. Uma das características mais marcantes das pessoas narcisistas é que elas não reconhecem o sentimento alheio, não sentem empatia, nem tentam se colocar no lugar do outro.


Eu tenho dois filhos. Não é uma experiência fácil. Acredito que para algumas mulheres, a maternidade seja vista de forma adversa, cujas consequências são desfavoráveis e frustrante para suas vidas. Respeito quem sente isso. Realmente, lidar com hormônios, mudanças físicas, dores e um bebê, é complicadíssimo. Ter de se abdicar da profissão, privações de sono, barulho de choro e fralda pra trocar o dia inteiro exige muito do nosso estado físico e mental. Então, evito crucificar quem não dá conta de toda a pressão e deixa a peteca cair, desistindo da função e jogando a toalha.


O fato é sobre a mãe narcisista, é que dificilmente ela consegue amar seus filhos com o amor incondicional e desinteressado. Geralmente, a projeção não ocorre com mais de um filho. O alvo pode ter a ver com a associação de um momento, uma frustração ou infelicidade crônica. Ocorre mais com FILHAS, ou o filho mais sensível, que convive junto com (mulheres) irmãs.

“A Psicanálise entende isto como um mecanismo de defesa do indivíduo chamado projeção. O indivíduo projeta para o mundo externo aquelas características que mesmo sendo suas ele só reconhece no outro e não em si mesmo.”

Uma das perguntas recorrentes, e que você deve estar curiosa para saber, é se a relação melhora ou há cura?! Infelizmente, o narcisismo não “melhora” com o passar dos anos. Não haverá uma espécie de evolução emocional. O que comumente ocorre na fase adulta é uma inversão de papeis. A filha assume o papel de mãe e a mãe, o papel de filha. A filha se responsabiliza pela mãe para suprir sua carência emocional, inclusive para evitar as frequentes chantagens emocionais da genitora e a mãe tem comportamento mimado, manhoso e dramático.


É importante enfatizar algo sobre de quem sofre essa relação com a mãe. O abandono emocional acarreta um problema bastante sério nas interações em relações que a pessoa for tentar. Esse “vazio materno” causa uma carência, e se torna uma busca incessante por aceitação e acolhimento. A empatia e a responsabilidade afetiva de uma vítima de mãe abusiva são bem presentes. Além disso, há propensão de baixa autoestima a ponto de se conformar com relações pouco recíprocas (parece que temos imãs pra pessoas frias). Eu mesmo, me doava demais para todo mundo e aceitava baixo retorno. Estava sempre disposta a mostrar o quanto eu faria diferença na vida das pessoas, e automaticamente, muitas delas se aproveitavam do meu jeito carente, até não ter mais o que explorar de mim. Com o tempo fui entendendo que mereço muito mais do que o básico que costumava aceitar só pra dizer que eu não estava sozinha. Aprendi que estar sozinha não é ruim, e que eu não preciso me encaixar em alguém que não combina comigo ou não é digno de estar comigo, para sentir que pertenço a algo ou não me sentir vazia. O autoconhecimento é essencial nesse processo de cura.


Enfim, espero que esse texto tenha esclarecido um pouco, caso essa seja sua realidade. Não sou especialista no assunto. Passei a pesquisar muito o tema quando comecei a identificar que havia algo errado na minha relação com a minha mãe. Espero que você encontre um jeito de se proteger e ser feliz.


Uma frase que eu gosto muito, diz o seguinte: Você não pode mudar as pessoas ao seu redor. Mas você pode mudar as pessoas do seu redor. O que deu certo pra mim foi encontrar uma distância segura, física e emocional, para não sofrer tanto com a influência a manipulação. Me casei aos 17 anos e parte do problema foi resolvido com esse passo. Hoje em dia, tenho minha vida, ela tem a dela, e sempre que possível nos falamos, mas sem forçar muito a exploração do território uma da outra.

Você pode me encontrar no Instagram como: @talisandradee ou no meu e-mail: autoratalitandrade@gmail.com

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