Ele ouvia que moleque de favela não tinha chance alguma na vida. Aos 10 aninhos, claro que não entendia bem desse jogo mas sabia de uma coisa – queria fazer a diferença. Para compensar as barbaridades que ouvia e via pelos becos, em casa com a mãe ele era tipo discípulo ouvindo a mestra.
Dona Rose cuidava para que o filho se apegasse aos estudos por um futuro vencedor. Agora, o que ela ficou sabendo bem depois é que uma dessas aulas maternas serviu como estopim para o moleque vencer barreiras além dos estudos e se tornar um profissional de sucesso.
Na terça-feira o Flamengo jogou em Manágua contra o nicaraguense Real Esteli, partidaça pelo título da Champions League Américas e com Jhonatan de Osasco indo para a festa do título com o placar de 84 a 80.
Sim, Flamengo campeão e agora com passagem para o Mundial de Clubes no próximo ano. A subida ao topo continua e a equipe carioca avisa que vai manter o elenco de pegada para chegar lá.
O ala e camisa 7 do rubro-negro quer essa escalada. Chegou ao topo das Américas e o próximo é o do Mundial. Isso mesmo, aquele moleque da favela de Osasco voa alto em continência ao que ouvia da mãe – não foi dito que dona Rose dava conselhos de mestre? Então, um deles até hoje é estopim para o garotão de 34 anos.
Lá na favela, ouvia a mãe dizer que se ele quisesse algo, que percorresse o caminho, que fosse atrás. “Imagine isso em sua cabeça”, dizia ela, “fecha os olhos e corre atrás”. Certo, ele buscou mas de outro jeito.
Então, o leitor pode imaginar um moleque de 10 anos andando por horas para jogar? Esse foi o começo de Jhonatas. Certo, mas até a mamãe aceitar a escolinha de basquete, ele contou com um chute de três mandado pelo primo Edson. Vendo que Jhonatan era mesmo danado na cesta, o primo armou uma parada esperta.
Tinha testes no Espéria, longe barbaridade mas era a chance da vez. Então o primo deu um drible na dona Rose, falando de dentista e outros papos. O certo é que os dois botaram pé na estrada e foram para o peneirão… Jhonatan passou de boa.
Estava cravado o encontro com o destino. Depois disso ele precisou deixar o aconchego materno para ficar nas bases do clube e se dedicar ao basquete, fazendo justamente o que a mestra sempre dizia: corra atrás.
Agora ao levantar a taça da Champions League, Jhonatan de Osasco coloca nela a mãe, o primo e os dois irmãos: “Eu não tinha condições de ir em nenhum treino. Só tenho a agradecer minha família.”
Lá atrás e a partir do Espéria, a caminhada seria com várias camisas, inclusive da seleção brasileira. Enfim, em 2017 vai para o fortíssimo Paulistano e, então, olha o moleque da favela campeão paulista; no ano seguinte e para matar a pau, título do Novo Basquete Brasil, a nata nacional.