O drama de Cipó em Santana de Parnaíba: correndo contra a pandemia por sonho olímpico

Capa Esportes Márcio Silvio

Provas sob calor senegalesco, com chuva ou muito frio; quilômetros parecendo infindáveis e fazendo da maratona algo além da capacidade humana. Mas é isso mesmo, superar os 42k não é para qualquer um, especialmente quando esse um faz parte da elite do atletismo.

Caso do pernambucano Wellington Bezerra, o Cipó. Desde 2018 ele está entre os melhores maratonistas do Brasil e, justamente por esse ranking, na vitrine do índice olímpico para Tóquio.

No ano passado a agenda internacional tinha duas ou três provas para Cipó buscar o sonhado índice, mas não é preciso lembrar que a pandemia chegou para isolar tudo. No entanto, um ano depois o estrago segue e o risco de sonho abortado é mesmo grande.

Cipó mora em Santana de Parnaíba onde deixa passadas por todas as ruas. Dia a dia ele parte em longa distância, quilômetros sobre quilômetros e ouvindo buzinas, aplausos e gritos de fãs dando aquela força. Tem feito esse trabalho de alto rendimento no isolamento e para diminuir os dois minutos que precisa por qualificação olímpica.

Não há feriados, não há fim de semana e todo dia é dia de treino. E por que? Cipó não pode vacilar porque a pandemia está aí dificultando o ciclo olímpico – cancelando eventos e impedindo viagens para competições.

Com a agenda incerta, ele tem que estar pronto para quando a oportunidade chegar. Por exemplo: no mês que vem, dia 16, é para competir em Milão, maratona cancelada em 2020 e agora remarcada sob formato inédito. Cipó foi convidado para a prova que será com número bem reduzido de atletas, chance de ouro em busca do índice olímpico – ele está preparado, está voando baixo nos 42k mas sabe que pode dar em nada por causa da pandemia.

Abril segue tenebroso aqui e ele ouve que a Itália está filtrando entrada de brasileiros por causa disso. Isso significa que, se o quadro não melhorar nas próximas duas semanas, as chances de impedimento de desembarque na Itália serão mesmo grandes.

Verdade, a Itália já está colocando brasileiros num funil e deve mesmo fechar o cerco por conta desse abril avassalador da pandemia. Então, essa situação chega implodindo os sonhos olímpicos de Cipó e de tantos outros atletas do alto rendimento no País.

E agora? Se o maratonista não puder embarcar para Milão, voltará ao modo concentração total à espera de outra prova – se rolar. A pressão aumenta porque Tóquio não espera e, caso não haja mais seletivas, ele ficará de fora.

MARATONA CONTRA O TEMPO

Uma saída para o pernambucano de Santana de Parnaíba seria deixar o Brasil para camping em qualquer lugar da Europa – mas sair ontem.

Para fechar, vale lembrar que o drama do maratonista tem prazo de validade – segundo o Comitê Olímpico Internacional, índices da modalidade para Tóquio vão até 31 de maio. Sim, há outra situação que pode salvar a pátria de Cipó rumo a Tóquio, uma situação caseira: se o Brasil realizar maratona própria por qualificação. Dois atletas já têm índices olímpicos – Paulo Roberto de Paula (camping em Portugal) e o já citado Daniel Chaves; havia um terceiro, Solonei Rocha, que se aposentou. Para entrar nesse grupo seletíssimo, Cipó precisa fazer os 42k em 2h11min30.

Ele dá garantia que faz, vem treinando um absurdo para tal e está na ponta dos cascos. Mas agora não depende depende somente dele, Cipó está à mercê desse estado de coisas que mutila o País e que põe em risco até o planejamento do próprio Comitê Olímpico do Brasil.

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