O homem que não vendeu a sua alma

Colunistas Rogério Santos

A retidão moral e o amor à verdade sempre foram pilares que sustentaram os melhores momentos da história humana. Especialmente nos períodos mais críticos, em que a descrença e a perda de esperança pareciam lançar no abismo do pessimismo uma boa parte da sociedade, foram os amantes da verdade com seu modo virtuoso de viver que mudaram os rumos da história.

Thomas More é um destes grandes homens virtuosos da história. O magnânimo pensador renascentista (séc. XVI) que ocupou o cargo político de chanceler do Rei Henrique VIII – uma espécie de administrador e juiz supremo do reino –, viveu uma vida digna de admiração e reverência. Ele foi capaz de preferir o martírio imposto pelo Rei do que trair sua consciência moral e convicções religiosa. “Eu seguirei a minha consciência com a ajuda da graça, dizia. Porque jurar contra a minha consciência seria para mim perigo de condenação eterna.”

Sua retidão moral e amor à verdade revelam a firmeza de caráter de um homem correto e justo, que não abre mão das suas convicções pessoais ou religiosas, e que mesmo sofrendo prejuízos em seu prestígio político, profissional e familiar, possui hombridade para se manter firme e resistir.

Thomas More é o homem que não vendeu a sua alma. Sua inflexibilidade diante de um rei tirano e de colaboradores corruptos, revela sua estabilidade moral, fruto de uma autêntica vida virtuosa.

Ao longo da história humana, não faltam exemplos de pessoas assim, que se mantiveram firmes em seus ideais. Que não venderam sua alma, nem mesmo quando corriam risco de serem caluniados, humilhados ou mortos.

Vivemos dias difíceis. A divisão entre grupos sociais e religiosos, a guerra ideológica e cultural que destrói a moralidade, a relativização da verdade, o desprezo pelo direito e pela lei natural, são alguns dos fatores que revelam o momento crítico em que nos vemos mergulhados. O problema é ainda mais grave quando constatamos a falta de firmeza e convicção naqueles que professam princípios e valores morais, mas que cedem facilmente diante de propostas imorais e alimentam, deste modo, os seus sórdidos e mesquinhos interesses.

Onde estão as grandes almas que não aceitam trocar a convicção da verdade pela conveniência do momento? Que não traem a boa consciência e a verdade pelas indecentes ofertas obscuras e ilícitas? Que preferem o desprezo e prejuízo pessoal a perder-se no sucesso populista, enganador e passageiro? Nosso tempo sofre pela ausência de “novos Thomas More”. Homens e mulheres que sejam capazes de viver a normalidade da verdade, sem se envergonharem de sua fé, princípios e valores. Que não se deixem contaminar pelo sistema corrompido das más instituições, nem pelas falácias ideológicas ou filosóficas que perturbam e deformam os desavisados. Temos necessidade de novos protagonistas que mantenham sua esperança em Deus, que trabalhem para defender a dignidade da pessoa humana em todas as suas fases; que não busquem o próprio interesse, mas que saibam promover o bem comum.

Por fim, e antes que alguém queira classificar este texto como uma “utopia”, a inteligência e a história já provaram que “aqueles que não venderam sua alma” foram os que realmente fizeram a diferença na história da humanidade.

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