O esporte osasquense é mais que centenário, tem como grande referência a Associação Atlética Floresta que vem de outubro de 1916 e que teve camisa pesadíssima também no futebol.
O pavio político para elevar Osasco a município fora aceso no final dos anos 50 e romperia no início da década seguinte. Mas à parte toda agitação e drama por que passava o bairro nesse processo, o esporte seguia de boa.
A Associação Floresta participou ativamente no front do movimento de autonomia política até a celebração em 1962 – ano de muita movimentação esportiva por ter Copa do Mundo no Chile.
As rádios tocavam Elvis Presley, Chubby Checker, Ella Fitzgerald, Marty Robbins, The Beatles, Ray Charles, Bob Dylan, Frank Sinatra; as vozes do Brasil eram Gilda Lopes, Luiz Vieira, Nelson Gonçalves, Helena de Lima, Os Cantores de Ébano, Silvinho, Raul Sampaio, Núbia Lafayette, Ângela Maria, Carlos José, Miltinho, Carlos Galhardo, Edith Veiga, Roberto Carlos, Anísio Silva, Emilinha Borba…
Estamos em 1962 e estes são alguns da playlist que faz a trilha sonora enquanto Osasco desata o nó umbilical com São Paulo; e se olharmos para o esporte nacional, temos o Santos de Pelé assombrando o mundo.
O moleque do boxe
Nesse cenário de ascensão municipal e com Osasco curtindo os primeiros meses como cidade, um garoto perto de completar 15 anos desembarca na estação de trem.
Ele chegava de São Manuel por insistência da mana Darci – para que morasse com ela em Osasco. Os pais não queriam mas, por fim, o ano é 1962 e todos concordam; então, Miguel de Oliveira é sorriso de ponta a ponta caminhando pelo centro da novíssima cidade.
Ano de mudança e para fazer história, pois ele se tornaria um dos heróis esportivos do Brasil – a linha do tempo avança e o encontramos aos 26 anos em 1975, tendo onze de Osasco.
Aquele moleque agora é um atleta duríssimo, um supercampeão em batalha feroz contra o espanhol José Duran no Principado de Mônaco – e após 15 rounds insanos, o boxe celebraria Miguel de Oliveira campeão mundial.
Ao desembarcar em São Paulo, carreata em viatura do Corpo de Bombeiros até Osasco, desfile pelo centrão e parando a cidade.
De Santo André e de Osasco
Há quem assine Jair da Costa como natural de Osasco mas não, o fera tem berço em Santo André. Nasceu em 1940 mas cerca de dez anos depois a família se mudaria. Então, ele teve adolescência e juventude marcadas no terrão do futebol amador osasquense.
Moleque bom de bola, costurava o nome na várzea. Quando começou a trabalhar na Cobrasma teve mais projeção no futebol amador e soube aproveitar as oportunidades até chegar à Portuguesa, contrato profissional em 1960.
Agora estamos em fevereiro de 1962, mês de foguetório político em Osasco e Jair a Costa é celebridade. E sabe o que ouvimos da imprensa? Que o craque dissera sem se esquivar: “Se eu fosse o técnico da seleção, me convocaria para a Copa do Mundo.”
Sim, ano de Mundial e o cidadão osasquense também está nessa pegada rumo ao Chile, mais ainda com a bola que vem jogando o garoto – Jair da Costa com apenas 21 anos. Apesar de o Brasil ter Dorval, Garrincha e Julinho Botelho na posição, a voz da torcida é ouvida e o ABC de Osasco é chamado para a seleção brasileira. Mais um motivo para foguetório na recém-emancipada com o osasquense ligado no Brasil 3 x 1 País de Gales em maio no Pacaembu, preparação para a Copa. Foi a única participação de Jair da Costa com a canarinho, ainda que tenha sido Brasil na conquista do bicampeonato mundial – como reserva de Garrincha, chances zero de jogo. No entanto, foi no Chile mesmo que o craque teve sondagem do Milan da Itália; posteriormente fecharia com a Internazionale.
No futebol europeu, o moleque do terrão de Osasco escreveria nome que até hoje é reverenciado: tetracampeão italiano (1963, 65, 66 e 71); bicampeão da Copa dos Campeões e bi do Mundial de Clubes em 1964 e 65.
Osasco 1962
Após pendurar as luvas, Miguel de Oliveira (nascido em 1947) seguiu morando em Osasco até falecer em outubro de 2021 – sempre teve 1962 como marco na vida.
Chuteiras aposentadas desde 1976, o ídolo Jair da Costa continua sendo Osasco, onde aprecia a vida e se recorda da história de sucesso que igualmente tem 1962 como divisor.
Naquele único jogo pela seleção, amistoso contra o País de Gales, o técnico Aimoré Moreira foi com Gilmar; Djalma Santos, Mauro Ramos, Jurandyr e Nílton Santos; Zequinha, Didi e Jair da Costa (Garrincha); Coutinho, Pelé e Zagallo. O Brasil fez 1 a 0 com Vavá aos 33 minutos do 1º tempo, Ken Leek empatou aos 28 finais e Pelé fechou aos 36 e aos 38.