Por que a tristeza do Natal?

Colunistas Talita Andrade

Em algum momento da minha vida eu deixei de gostar de datas comemorativas… Essas (aniversário, natal, ano novo) que toda a família se reúne pra atualizar as notícias e disputar qual filho é mais bem sucedido. Até certa idade, eu nem tinha muita visibilidade nessas ocasiões, quando criança a gente se importa com as comidas e brincadeiras. Mas conforme vamos crescendo, no meu caso, comecei a namorar bem precoce, então nesses dias, eu entrava num estado introspectivo. Era sempre uma sensação triste, cinza, como um dia nublado.

Nunca entendi muito bem o motivo.

A diferença de idade do meu parceiro e eu, eram treze anos. Ele bem mais experiente, enquanto eu ainda era estudante, inocente e sonhadora. Além disso, tínhamos uma diferença de condição financeira, que era uma das coisas que me intimidava na relação.
Com o decorrer dos anos, virou um casamento, veio a maternidade e depois, o término. Mas a sensação nessas datas continuou.

Nunca soube explicar o motivo, me conformei que era somente uma tristeza passageira e casual.
Porém, quando decidi me conhecer, saber quem era a Talita, sozinha (já estive anos num relacionamento, do qual eu vivia somente uma rotina de casal, sem liberdade alguma para além daquilo), ouvi todo o barulho de anos do silêncio.

Primeiro resolvi meu julgamento sobre mim mesma. Administrando o medo que eu tinha de ESTAR SOZINHA. O medo real de ficar solo, sem ninguém, sem atenção, sem companhia. Aos 21 anos finalmente precisei aprender a conviver com minha própria companhia e descobrir que mulher eu era. E nessa autodescoberta, que já dura quatro anos, descobri minha tristeza de fim de ano…

Eu não me sentia ALGUÉM antes disso. Durante todo o relacionamento, me via pequena e de certa forma desinteressante. Em meio às nossas diferenças, não me sentia a altura. Me colocava como inferior ao falar de mim. Me achava simples, até mesmo insignificante com minha inexperiência. Em vista dos que me cercavam, eu não tinha nada para contar. Eu só via exibição de conquistas, certificações, objetivos traçados. E eu? Quem eu era, o que eu queria da vida? Eu não sabia! Então como eu poderia me sentir pertencente ao meio que eu estava?

Quando me dei conta que eu não estava feliz dessa forma, que tudo que eu tinha construído não era de verdade, eu precisei mudar toda a rota da minha vida, os cenários e ir atrás de mim mesma. Me descobri na escrita, na fotografia, na comunicação. Comecei a empreender, e descobri talento pra isso. Retomei meu gosto por estudo, comecei a saciar minhas curiosidades e competir com meus próprios desafios. Eu fiz descobertas interessantes, aprendi coisas, criei meu ponto de vista, conheci pessoas, amores e desamores. Conheci lugares, desfiz amizades e aprendi que eu amo ficar sozinha, e que isso não significa que você é sem ninguém.

Hoje tenho orgulho de quem eu sou, tenho história pra contar. Reverti meus medos em coragem, converti meus traumas em superação e tenho a missão de levar força para outras pessoas que estejam passando por isso. Me libertei do medo de ser mãe solteira. Hoje eu me considero bem sucedida como mulher. Hoje eu sei meu valor e os exponho com orgulho quando vou falar de mim, sem nenhuma modéstia, porque sei que aquilo que eu falo, é aquilo que as pessoas enxergam em mim.

Agora, eu tenho prazer em estar presente em datas comemorativas. Eu presenteio as pessoas, eu faço contagem regressiva pro meu aniversário, eu compro e até faço bolo pra mim, assopro as velas e agradeço a cada nova idade.

Eu sou tão pequena, em vista do que serei no amanhã, mas já sou suficientemente grande pro meu hoje.
E assim, vou tomando consciência de tudo que acontece comigo, o que eu quero e o que eu posso melhorar.

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