A depender do trecho percorrido, a estrada pode ser daqueles lugares que permitem e estimulam a reflexão. Paisagens campesinas, formações geográficas exuberantes ou um casebre rústico no topo de uma colina costumam ser inspiradores. Mas para além de cenários instigantes da natureza, uma viagem despretensiosa pode ser fonte de curiosidades e surpresas, bastando apenas um olhar atento. E foi justamente numa dessas oportunidades que eu, a bordo de minha motocicleta, rodava por uma estrada vicinal do interior de São Paulo. Em determinado momento deparei-me com uma placa de sinalização que anunciava: “Rotatória Fulano de tal a 200 metros”. Como uma pequena curva antecipava a chegada ao cruzamento, não era possível vê-la àquela distância, o que me permitiu uma breve divagação. De certa forma intrigado, passei a refletir sobre a razão que levaria alguém ou um grupo de pessoas a homenagear outrem com uma rotatória. Considerava como devia ser a tal rotatória a ponto de ser usada para homenagear um indivíduo que, provavelmente, tivesse contribuído com o desenvolvimento regional e, portanto, seria digno de tal honraria. Passei a matutar acerca daquele elemento tão importante do sistema viário, fundamental para organizar o tráfego de veículos, diminuir a ocorrência de acidentes e promover a segurança dos usuários. “Deve ser uma senhora rotatória! A ponto de até receber um nome? E não deve ser o nome de qualquer um. Imagine o que este cidadão deve ter realizado! Deve ser uma rotatória enorme, bem iluminada, sinalizada, um paisagismo bem acabado…” Enquanto meu devaneio avançava a distância diminuía. A curva que antes impedia a visão agora já não mais prejudicava e os mistérios se desfaziam. Uma rotatória chinfrim e medíocre se descortinou; o brilho dos olhos se desfez e o que era expectativa frustração virou. Por um instante solidarizei-me com o homenageado e entes queridos. Poderia ser algo melhor. Mas também não pude deixar de questionar nossa mania, desde os tempos da colônia, de promover honrarias e criar distinções a todo instante, usando para isso elementos até mesmo insignificantes. Não sou contra tais tributos, mas que sejam mais criteriosos. E em meio à minha abstração, a rotatória Fulano de tal desaparecia no retrovisor da motocicleta.