Seo Antônio Lúcio

Colunistas Oscar Buturi

Noite de uma segunda-feira de dezembro, temperatura em queda, nos dirigíamos à entrada do passeio público de Curitiba, quando percebemos que o portão estava fechado. A poucos metros de distância, um senhor com uniforme de gari varria concentradamente a calçada. Uma touca de lã sob o boné ajudava a enfrentar o frio que apertava à medida que a noite avançava. Consultado acerca do fechamento do local, muito educadamente nos informou que o espaço fechava às segundas para manutenção. Aproveitei o ensejo e puxei conversa: – E o senhor, vai até que horas?
– Eu vou até às dez e meia. Chego todo dia em casa à uma e quarenta. Vinte e dois anos e “nenhuma falha”, disse orgulhoso.
– Em 22 anos nunca faltou ao trabalho!!!?? Perguntei surpreso.
– Nenhuma vez.
– Parabéns! E que horas pega no serviço?
– Duas e meia.
– Qual o nome do senhor?
– Antônio Lúcio. Eu também pinto quadros.
– O senhor também pinta nas horas vagas??
– Já pintei vários, inclusive da minha terra natal, no norte de Minas. É arte “naif” (arte espontânea e autêntica, quando não há preparação acadêmica ou orientação profissional).
– Sim, como o Waldomiro de Deus? Seo Antônio balança a cabeça afirmativamente.
– Legal! Ele viveu muito tempo em minha cidade, Osasco.
– Há quanto tempo tá em Curitiba, Seo Antônio?
– Quase 30 anos. Tenho quatro filhos; um nascido em Santa Catarina, dois no Paraná e outro em Minas. E continuou: – Dois são músicos. Um deles é compositor, fez questão de destacar, também orgulhoso.
– Todos bem criados, graças a Deus, né? Comentei para reforçar sua satisfação.
– Quantos anos o senhor tem?
– Sessenta e sete.
– Sessenta e sete e essa disposição? Ele simplesmente sorri… Já me despedindo, arrematei: – Parabéns e bom serviço para o senhor! E parabéns também pela família!
O gari agradece com um novo e discreto sorriso. Seo Antônio Lúcio é daquelas pessoas simples, cuja sabedoria é construída e alicerçada com o tempo e as experiências da vida. Ao primeiro sinal, muitos se enganam acerca de gente como ele. E perdem muito por isso. Dez metros adiante, pensei que poderia ter feito um registro com essa figura simples da capital paranaense e do Brasil. Não vacilei, voltei e pedi para fazer a foto.

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