Tempos difíceis. Tempos muito difíceis. Há exatos quatro anos escrevia nesse mesmo espaço acerca do ambiente tumultuado que envolvia o pleito eleitoral de 2014 no Brasil. De lá pra cá as coisas só pioraram; a temperatura da panela de pressão política aumentou, a oposição não deu descanso e o governo não teve tranquilidade. Veio o impedimento da ex-presidente Dilma, seguido de um governo desprovido de apoio e autoridade. O país nunca mais se acalmou e a crise econômica se aprofundou. Há quem garanta que a estagnação econômica nada tem a ver com economia, mas com a política. Em meio ao caos, o discu rso de salvação encontra sua ocasião, não importa se acompanhado de extremismos. As pessoas estão cansadas. Bombardeadas diuturnamente com notícias de que o mundo está vindo abaixo, querem qualquer coisa que não seja a repetição “do que aí está”, dizem muitos. Nessa conjuntura, a campanha eleitoral se transforma no ápice de um processo desgastante de tensão e estresse. Os mais variados ambientes de manifestação (ruas, redes sociais, mesas de bares e encontros familiares), se tornam em palcos de disputas, por vezes, irracionais, como as antigas arenas romanas, onde, inclusive, chegava-se à morte. E falar em morte em campanha eleitoral, pasmem, seria um exagero anos atrás, mas não o é neste momento. Já registramos um atentado a faca ao candidato à presidência da república, Jair Bolsonaro, e um assassinato, também a facadas, de um eleitor do PT, mestre de capoeira Moa do Katendê, na Bahia. Tudo por conta de divergências políticas. E ainda sobram provocações e insultos por toda a parte e de toda parte, como simpatizantes de Bolsonaro entregando, “simbolicamente”, capim a eleitores petistas. Estamos flertando perigosamente com a radicalização. Momento para lideranças e instituições sérias, imbuídas de um espírito republicano, buscarem a paz. Mas onde estão essas autoridades? A igreja, por exemplo, se cala. E no estranho e perigoso silêncio da igreja, instituição que deveria ser protetora e defensora da justiça, surge a brecha para ousados oportunistas proferirem besteiras, promoverem o preconceito, perseguição e até mesmo o ódio, sob aplausos de muitos abstraídos.