Hapkido como ação social em área de risco de Osasco

Colunistas Esportes Márcio Silvio

A Associação dos Amigos do Jardim D’Abril e Adjacências é simples, mas está fazendo um trabalho espetacular com jovens que encontram nas artes marciais o motivo para sonhar alto com o futuro


 

Noite de chuva fina em Osasco. O Jardim D´Abril é um bairro extenso na zona Sul e faz limite com a Raposo Tavares. Quem segue pela avenida Prestes Maia e entra na rua Ermidio Scaldelai, tem à primeira mão a rua Jácomo Sbravatti. Ao passar pelo número 213 não vê nada que chame atenção, só uma placa apontando que ali é uma sede comunitária. Há mais de dez anos, a Associação dos Amigos do Jardim D´Abril e Adjacências trabalha projetos sociais gratuitos nesse espaço.
A entrada é um quintal adaptado como academia.Tem uma cobertura montada na raça e tatames igualmente surrados. Justifica-se, pois tudo é produto de doações. As únicas ações da Aajaa por dinheiro são para o aluguel. Para bancar esse mês a mês, o voluntário Marcelo Hanada conta com as famílias. “Todos lutam pra que o projeto siga”. Ele administra a associação situada nessa área de risco e onde a violência ronda dia a dia.

Alunos da Associação do Jardim D’Abril tem aulas hapkido duas vezes por semana

E a academia? Funciona graças ao trabalho de uma garota que em fevereiro completou 23 anos – a maior parte dessa jovem estrada está no tatame. Julia Ine é faixa-preta 2ª grau de hapkido, arte marcial coreana. Ela é voluntária no projeto e faz isso a cerca de três anos. De volta ao cenário, noite chuvosa e a academia tem apenas o toldo como proteção parcial. “Se chove forte a gente tem que recolher tudo porque não tem jeito”, diz Marcelo Hanada.
Com a elegância marcial de uma ninja, Ine retirava tatames de onde a chuva já causava. Formada em educação física, agora faz bacharelado voltado ao alto rendimento na USP. “Aqui é um ideal. Temos criança de 5 aninhos”, disse ela ao sorrir para o pequeno Davi. “Aqui é aberto pra todas idades, temos duas aulas por semana.”
Ine é da Equipe Okami e que valida o hapkido na Aajaa. “Por trás disso vem a interação da comunidade com os filhos envolvidos em algo tão saudável”, festeja Marcelo Hanada. Enquanto isso a chuva aperta um pouco mas com o tatame já lotado. E dá-lhe rolamentos, chutes e tantos outros golpes. Então a reportagem pergunta para a ninja como é que ela consegue os uniformes (dobok), pois tudo é muito caro. “Eu choro na compra, explico que é pra projeto social. Mas a maioria dos uniformes vem de doação.” A reportagem deixa a sede da Aajaa vendo aquela cena própria de filme marcial: um local aberto no vazio da noite chuvosa; um grupo treinando forte sob comando de uma jovem mestra com ideal intocável. No bom sentido da expressão, a bela e os feras do hapkido por uma comunidade melhor.

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