Meu domingo ficou triste. Justo hoje, uma das poucas vezes no ano que tive um domingo sem eventos, pra ficar em casa com a família. Estava finalizando um almoço com Peru e Batata Rústica, Arroz Branco e Salada, quando fiquei sabendo do falecimento da Apresentadora e Cozinheira Palmirinha. Confesso que me entristeceu e me fez tomar coragem para escrever essas linhas.
Palmirinha teve uma história de vida bastante diferente do sorriso de vovó que cativava a todos na TV. Sua infância foi dura, cheio de drama, violência, abandono e superação. Eu não vou contar todos os passos dessa sua luta, e indico que vocês busquem o seu livro “A Receita da Minha Vida”, onde detalha com dor, coragem e sensibilidade a sua carreira.
Queria pegar um ponto que presenciei, que ouvi, que refleti e que me tocou bastante. E eu nunca vou esquecer.
Estava eu nos bastidores da gravação de um Programa, com um Chef famoso, que me coloco no direito de não revelar, toda equipe de produção e suas assessorias. Eis que uma mulher da equipe, eu confesso que não sei se era filha da Palmirinha ou alguém que trabalhava com ela, elogiou o Chef e disse que a Palmirinha gostava muito dele, que estava com saudades e queria em breve revê-lo. O Chef ficou feliz, sorriu, agradeceu e deu pra perceber que a admiração era recíproca.
Quando a mulher saiu, ele confidenciou para nós, que gostava muito da Palmirinha e que tinha um enorme respeito por ela. Porém, algo deixava ele bem revoltado. O fato de poucos Chefs irem no seu programa, ser amigo dela, dar o devido respeito que ela merecia. Confesso que eu achei estranho isso, pois, na minha cabeça não tem como alguém não gostar daquela senhora sorridente, simpática e com afetividade de Vovó.
O mundo gastronômico, me ensinou que existe uma competitividade imbecil por status e glamour. Desde as pequenas Feiras Gastronômicas que fiz, já enxergava essa visão burra e distorcida. Um quer ser melhor que o outro, quer passar por cima do outro, quer ter mais espaço que o outro, mais elogios, mais venda, mais tudo. Nem que pra isso tenha que puxar o tapete, mentir, corromper e até manipular funcionários para te derrubar, o que já aconteceu comigo. Porém quem é de verdade, segue seu árduo caminho e seus objetivos sem passar por cima de ninguém tem força, persistência e honestidade.
Pelo que o Chef contou, muitos outros famosos não iam no Programa dela, não davam o devido valor e nem reconhecimento, por um simples fato. Palmirinha não era Chef, não era formada em grandes faculdades do mundo, não tinhas as estrelas, não era Gourmet, não tava na grande TV. Era simplesmente Palmirinha, a Cozinheira raíz, que antes trabalhou como faxineira e numa fábrica de automóveis. No início cozinhava pra fora, fazia congelados para gente rica e encomendas para festas e eventos. Conseguiu entrar pra tv por coincidência do destino e cativou Ana Maria Braga.
Bom, acredito que não da pra generalizar e tenho certeza que assim como o Chef que narrou tudo isso, outros deviam admirá-la também. Mas essa passagem me marcou bastante, pois o caminho que ainda estou traçando, tem muita coisa parecida. Oxalá tenha a força e a garra que essa grande mulher teve.
Encerro essa homenagem com a frase que ouvi e nunca mais esqueci. “Tem muita gente querendo ser Chef, mas poucos querem ser de verdade, Cozinheiro!”.
Obrigado por tudo Palmirinha! Você foi gigante!
Mto bom… ela era demais