Das quebradas de Osasco: esses valentes vão para a histórica Forja dos Campeões

Esportes Márcio Silvio

Duas máximas antigas da sabedoria popular brasileira: 1) por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher; 2) todo bom time começa com um bom goleiro. Há tantos outros dísticos que formam essa filosofia folclórica, geração a geração; e no mundo do boxe, algo pode ser dito também: por trás de todo grande lutador tem a Forja dos Campeões.

Sim, torneio preparatório na carreira do atleta iniciante, a edição retorna após nocaute que tomou da pandemia ano passado. Será no Esporte Clube Pinheiros no próximo mês, quarto evento seguido nesse ginásio que fica na zona Sul de São Paulo. Mas o ringue não será montado na quadra, o espaço da Forja dos Campeões está reservado no Salão de Festas do Pinheiros, coisa fina. O gongo soa em 3 de janeiro e olha que tem atletas de Osasco nesse quadrilátero.

O legal desse torneio é que apenas lutadores sem cartel vão para o combate, todos pré-amadores ainda, nada de luta oficial. Sim, é o primeiro degrau na estrada da nobre arte. E sem recuar muito no tempo, cabe lembrar que Osasco tem dois campeões recentes: em 2017 o garoto Isaac Ferreira arrebatou o troféu, em 2019 foi Elhen Taynara levando o boxe feminino ao pódio mais alto.

E a história desses dois campeões são idênticas: treino na raça, sem amparo empresarial, nenhum apoio municipal e, de quebra, da periferia de Osasco. Interessante que essa história segue porque Osasco retorna à Forja e mantendo o roteiro – atletas das quebradas, sem apoio algum e indo competir na valentia.

Na zona Norte tem o projeto Terra Nossa, legado que vem dos anos 80 e dos movimentos de ocupação, destacando-se hoje pelo trabalho social e esportivo varrendo os anos. Quem assina esse projeto é Diego Rainho, um dos pupilos do mestre Luizinho do Boxe para a Forja dos Campeões.

Diego vai competir na categoria meio-pesado, vem treinando arduamente e promete soltar o braço nessa estreia como lutador. E quando não está com as luvas, ele administra o projeto que tem várias disciplinas de luta e ações sociais diárias.

Mas o assunto é boxe e Rainho não vai para a Forja dos Campeões sozinho, essa pegada fica para o técnico Luizinho que é uma lenda à parte. Presidente da União Brasileira de Lutas, ele entrou em contato com o Terra Nossa e rapidinho levou o boxe para lá.

“O projeto é social, estamos há cerca de dois meses e com vinte atletas”, explica o mestre. Dois meses? Sim, pouquíssimo tempo e já com valentes calçando luvas para encarar a Forja. “Há pouco tempo que conheço o Luizinho, ele mudou minha vida”, comenta Diego Rainho.

Ele conta que estava pesadão, que em um mês de boxe perdeu nove quilos e que está enxuto para o torneio. E isso também vale para a moçada que forma o time do Terra Nossa: Kauã (médio-ligeiro) e Lucas de Oliveira (galo); representando o boxe feminino, Jennifer Gonçalves (meio-médio).

Estamos falando de uma moçada que faz valer cada minuto de treino – por baixo, duas horas diárias. Nada dos confortos das academias centrais, cenário rústico e um boxe talhado nas mãos. E para resumir esse cenário rumo à Forja dos Campeões, mestre Luizinho manda um direto: “Eles têm raça e isso é o mais importante.”

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